O
ISLAMISMO
“Oh vós que credes, temei a Deus. Que cada alma
considere o que preparou para seu amanhã. Sim, temei a Deus. Ele sabe tudo e vê
o que fazeis. E não imiteis os que se esquecem de Deus. Deus os faz
esquecerem-se de si mesmos. São eles os perversos”. (Corão – 59:18-19)
Não bastasse os trágicos acontecimentos do atentado
terrorista nos EUA no dia 11/9/2001, agora um filme e nesta semana um charge
contra os muçulmanos coloca o mundo em pavorosa novamente. A mídia costuma
focar o terror, o atraso, atentados do oriente médio, e não mostra a cultura, a
riqueza, a beleza, o folclore e tanta coisa boa que existe naquela cultura
milenar e importante para todo o mundo.
Infelizmente, a ignorância, mãe de todas as
misérias,
encontra terreno fértil em
mentes vazias, as quais não filtram e nem questionam as informações que lhe são
passadas.
Não se pode, jamais, julgar um
povo, raça ou
grupo pelos atos
praticados por alguns de seus membros.
O
nazi-fascismo, a intolerância, a xenofobia não cabe mais num mundo que está
interligado por uma gigantesca rede de comunicação e misturas raciais.
Os islamitas não são inimigos do mundo, eles
pertencem a este mundo e representam uma grande parcela da humanidade, sendo a
religião que mais cresce atualmente.
Não
podemos ainda esquecer que quando o ocidente estava mergulhado em seu fanatismo
religioso da Idade Média, os mulçumanos ensinaram ao nosso mundo a álgebra, a
geometria, a trigonometria, o uso do zero e de algarismos arábicos,
introduziram noções astronômicas, trouxeram a bússola, a pólvora, o papel, o
fósforo, o álcool, os
ácidos, fundaram
hospitais e ensinaram medicina. O Oriente Médio hoje, não é o que a televisão e
jornais insistem em mostrar, não é
um
grande deserto cheio de camelos e fanáticos, possuem uma série de avanços e
modernidades.
Os prédios dos islâmicos
quando bombardeados também desabam, matam inocentes, sufocam crianças e
bombeiros, e eles choram suas perdas como qualquer outro povo, talvez um pouco
diferente no sentido de acreditar com todas as forças em Allah, o Deus Supremo,
o Senhor do mundo Islâmico.
Mas, o que é o Islamismo?
O islamismo,
com mais de um bilhão e trezentos milhões de adeptos, espalhados pelo Oriente
Médio, África, Ásia
e em menor número na
Europa e Américas é a segunda maior religião do mundo. Foi fundado por Mohammed
(Maomé), um condutor de camelos casado com a rica viúva Khadija,
iletrado porém sábio foi persuadido para sua
missão pelo Anjo Gabriel que lhe ensinou a doutrina que deveria propagar e
através dela unificou o povo árabe.
Organizando um grupo de iniciados
ditava-lhes os preceitos religiosos,
através da inspiração divina, sendo mais tarde compilado o livro sagrado
do islame chamado de
O Corão (Al Corão = a leitura).
Os islâmicos crêem na existência dos anjos e
professam fé nos antigos profetas bíblicos, esperam o Juízo final, acreditam na
predestinação divina dos maus e bons, oram cinco vezes ao dia, jejuam no mês de
Ramadã, pagam dízimos e realizam quando suas posses permitem uma peregrinação a
cidade sagrada de
Meca (Arábia Saudita);
não tomam bebidas alcoólicas, não comem carne de porco. Mohammed seria o último
dos profetas, após
Adão, Abraão, Moisés,
Davi e Jesus, o preceito máximo está em: “Não há outro Deus senão Alah
e Mohammed é seu profeta”. Em 632 da Era
Cristã, na cidade de Medina, morreu o profeta Mohammed deixando uma nova
religião em franca expansão e havendo divergências de sucessão e interpretação
de seus ensinamentos.
O Corão
engloba a doutrina judaica e cristã, tendo uma perspectiva universalista, cada
muçulmano é seu próprio sacerdote, possuem uma existência ética em que todos
são responsáveis diante de Deus (Allah); os homens não são donos de sua vida,
de seus bens, nem do mundo, tudo pertence exclusivamente a Deus; para os
muçulmanos, os deveres vêm antes dos direitos e a própria palavra Islã,
significa submissão, ou seja, submissão a vontade e leis de Allah, o Clemente e
Misericordioso.
O
islamismo de outrora não foi uma religião intolerante, haja vista que, árabes,
judeus e cristãos conviveram e misturaram suas culturas na Península Ibérica
(Portugal-Espanha) quando esta estava sob domínio dos muçulmanos de 711 a 1492;
na Índia o islamismo, hinduismo e budismo coexistem desde o ano de 647, no
Oriente Médio as três religiões não tinham maiores atritos até as Cruzadas
Cristãs (1095 a 1291).
A
questão muçulmana hoje é mais política do que religiosa. Como não há um chefe
religioso absoluto, o Corão é interpretado e seguido de acordo com os aspectos
culturais de cada País, sem no entanto, perder sua essência divina. Os fundamentalistas levam o Corão ao pé da
letra buscando suas origens, adotando códigos civis, penais e políticos ali descritos, os quais são condizentes com o
modo de vida do século VII, enquanto outros grupos (grande maioria) extraem do
Corão os preceitos divinos (Sharia) que
compõem seus dogmas e crenças.
Geralmente
muitos confundem todos os islâmicos como fundamentalistas ou xiitas o que não é
real. Em média noventa por cento dos mulçumanos são SUNITAS, ou sejam,
seguidores da sunna (tradição) que proclamou os califas como sucessores de
Maomé e dez por cento são XIITAS seguidores de shi’at (facção) os quais
defendem que Ali genro de Maomé seria
seu herdeiro espiritual, tendo uma linha de conduta muito dura.
A
Revolução no Irã de 1979 liderada pelos xiitas
transformou esta palavra como sinônimo de intolerância e fanatismo no
mundo ocidental, quando na verdade existem muitos xiitas que não são
fundamentalistas e não aceitam o
terrorismo e há sunitas que podem apoiar este tipo de atrocidade. Há xiitas que criticam os excessos praticados
pelo Talebã que está no poder do Afeganistão desde 1996.
Talvez
a mídia ocidental enfoque mais os problemas religiosos e políticos do mundo
oriental do que o ocidental, pois as intolerâncias religiosas estão presentes
em todos os povos e épocas. Cristãos e
muçulmanos ainda hoje se chocam nos Bálcãs,
existem guerras entre hinduístas e budistas no Sri-Lanka, nos Estados
Unidos e no Japão há seitas religiosas
extremistas que já praticaram atos de terrorismo, grupos religiosos
fanáticos se suicidam coletivamente na África e no Norte das Américas. Como acusar somente
os muçulmanos de intolerância, quando sabemos que na Irlanda, região rica do primeiro mundo, educada
ocidentalmente, possui grupos protestantes que cospem em crianças, as insultam
e agridem seus pais pelo fato de serem católicos e republicanos? Da mesma
forma, católicos irlandeses cometem atos
de terrorismos e assassinam pessoas pelo
fato de serem protestantes e monarquistas. A inquisição cristã, que teve sua
origem na Idade Média mas que agiu com maior crueldade e intolerância da Idade
Moderna, matou inúmeras pessoas em nome
da cristandade, as intolerâncias protestantes e católicas se chocaram na França
e em vários países fazendo milhares de vítimas.
Não
se pode culpar todos os muçulmanos do mundo, pelo atentado produzido por uma
pequena parcela de fundamentalistas, repreendidos até mesmo pelos seus irmãos
de fé. O problema não está nas religiões, mas nos homens, pois
tanto para os muçulmanos (Corão) para os
Judeus (Torah) para os Cristãos (Bíblia) está escrito: NÃO MATARÁS!
O
ocidente precisa aprender a convier com as diferenças, aprender a diversidade,
parar de ver apenas o próprio umbigo, de ver os diferentes como inimigos. Que
cada povo tem o direito de viver como queiram. Há muito ainda que se aprender !
Valter Cassalho
(Fontes: O
Alcorão – tradução Mansour Challita;
Revista Super Interessante – maio 1997; O Livro das Religiões – cia. das
Letras 2001, Grandes Impérios e Civilizações – O mundo Islamita vol. II, ed.
Delprado-1996).