UMA
IGREJA E SEUS SÍMBOLOS
A IGREJA é
repleta de símbolos, o que permite que sua linguagem seja universal atualizando
suas concepções na dinâmica do tempo. A
importância desta simbologia e de suas tradições a mantém coesa, firme e
universal a todo instante. Os símbolos
assim como a música e a ritualística toca fundo nossos corações, nossa alma e
nos envolve de forma objetiva e subjetiva, transcendendo nossa temporalidade e
razão, ela nos envolve nas questões de fé.
Essa
transcendência, esse encantamento, esse envolvimento só é possível através de
nossa interação com tais símbolos litúrgicos que tocam nossa alma e fortalece
nossa fé, nosso contato com o divino.
A Igreja há
milênios percebeu a universalidade e comunicação da ritualística com a alma
humana e até hoje a música sacra e seus requintes, as pinturas, as imagens, os
templos, enfim a arte sacra em si tem
sua função. E esta função ultrapassa o contemplativo, ultrapassa a beleza e a
estética, ela transcende tudo isso, ela nos ilumina, nos fala, nos conduz e
norteia. Por isso temos os santos, não para terem suas imagens adoradas, mas
para nossa contemplação e lembranças de seus feitos e de seus exemplos a serem
seguidos.
Quando olhamos
para a Madre Dolorosa não estamos a adorar uma imagem, mas sim a contemplar
seus olhos lagrimejantes e o punhal que
traspassa seu imaculado coração; parece
que neste instante aquela Pietá consola nossas dores e nos inspira a entender e
aceitar nossos sofrimentos. Quando os
artistas do movimento barroco deram a teatralidade a seus templos e a vívida
expressão em suas imagens, tornou-se impossível
não nos comover com o sofrimento expresso das imagens da Semana Santa
! São esses símbolos que nos leva a
reflexão sobre o sofrimento de Jesus e faz depositarmos nossas dores e aflições
naquele momento. Quando repicam os sinos, acende-se o círio pascal e aleluias
sobem aos ares, novas esperanças preenchem nossas almas e o júbilo toma conta
do nosso ser e renova nossas esperanças no além morte, na glorificação dos
justos e a ressurreição. Quando felizes tocam os sinos de Belém e as músicas
alegres enchem a igreja na missa do Galo renovamos e fazemos novas alianças num
ano vindouro. Tudo isso é tocado não
pela razão ou ciência racional humana, mas pelo subjetivo, pelo encanto, pela
mística, pela simbologia que vibra nosso interior e alimenta a centelha divina
presente em nós humanos e filhos de um Deus Único.
Essa é a grande
sabedoria da Igreja, a imponência de seus templos, que não foram construídos
para ostentar, mas para tocar, para falar. Seus santos falam, suas pinturas
falam, seus sinos falam, sua música transmite, a Igreja se comunica e faz a
ponte entre o Céu e a Terra. A Igreja, mais que um templo é um livro aos
homens, e felizes aqueles que têm esse livro sagrado bem ilustrado e que se
pronuncia com sua arquitetura, com suas tradições, com seus santos e com sua liturgia; a igreja vibra, o templo se comunica a nós. É
por isso que os templos foram feitos, e para isso que foram construídos com
requintes, é por isso que lá estão os santos, lá está o Corpo de Deus, o
nascimento, a morte e a ressurreição.
Sejam suas cores, suas caveiras, seus santos, seus sinos, suas vestes,
suas cruzes, seu chão quadriculado, tudo
tem um porquê e percorrer e conhecer esses porquês é iluminar a alma e entender uma Igreja Viva de
um Deus Vivo.
Esses santos,
essas manifestações, essa ritualística tem um mesmo denominador comum, existem
para o Louvor Supremo de Deus, os santos estão lá por Deus, pela abnegação a
Jesus, e exemplificam como se portar na fé cristã, eles indicam o caminho.
Assim nos
ensina o grande apóstolo em Coríntios 1 – cap. 13- Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não
tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que
tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e
ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não
tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para
sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e
não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
Se tudo isso, toda simbologia, toda
pregação não houver amor de nada adianta, e é esse amor que movimenta a igreja,
e a procuramos por esse amor puro e purificante, o consolo da nossa alma, as
respostas para nossas dúvidas. É esse amor que faz nossas interpretações
simbólicas e são esses símbolos que despertam e vibram esse amor, numa perfeita
simbiose de fé.
Por isso é que Verônica segue sua via
crucis, é por isso que Verônica tem atravessado séculos com seu cântico,
tocando nossa alma, nos chamando a reflexão da Semana Santa, não apenas pelo sofrimento imposto a Jesus e
a amargura de sua chorosa Mãe, mas pela identificação nossa com esse momento,
nossa identificação de nossas dores com aquele momento revivido, com o luto
expresso de Verônica e suas Marias Beus, o findar da Sexta Feira da Paixão e a
certeza do nascer do outro dia e a esperança na ressureição e do novo sol em
nossas vidas.
O símbolo forte que da quaresma e o
sentimento que exerce em todos faz esse período especial, tempo de meditação, de recolhimento, de reflexão, que
inicia-se pelas cinzas a lembrar nossa brevidade na terra e a efemeridade das
coisas, ao Domingo de Lázaro com suas chagas ou a Lázaro o ressuscitado
vencendo a morte; as nossas andanças pela via sacra, pelas procissões, pelos
confessionários, pelas glória do Domingo de Ramos, pela passagem da morte e
pela ressurreição; faz deste período um dos mais belos da Igreja. É pela Páscoa
do Senhor que se define todo o calendário litúrgico da Igreja.
Ao entrar no templo, perceba que ele é
um livro e tem uma mensagem a passar, as imagens estáticas que ali estão tem
uma mensagem para você; conheça a história deles e terá um caminho a seguir; entenda
a liturgia e os símbolos que vão desde as vestes sacerdotais até as grafias
pelos altares e entenderá que tudo tem um motivo e a origem desse motivo é Deus
e sua infinita manifestação a desdobrar pelo Universo.