BARBA COM ARCO TARCO E VERVA
A barba sempre teve seus grandes simbolismos, variando
de acordo com épocas e locais, em algumas épocas era símbolo de luto e
tristeza, em outras de respeito e tradição, em alguns países faze-la era
contrariar a lei; em outros deixá-la crescer era uma vergonha ou desleixo.
Basta ver gravuras sobre os gregos, romanos, egípcios, árabes, judeus, assírios
para se ter uma idéia de quanto o uso da barba variava, chegando mesmo a dar
nomes a personagens da história, Barba Roxa, Barba Ruiva, etc.
No ocidente variou-se muito a questão da barba, ora
reis e fidalgos barbudos, ora raspados.
Consta que em Portugal Dom Fernando (1345-1383) foi o primeiro a cortar
o cabelo e fazer a barba sendo imitado pelos fidalgos, membros da corte e outras
pessoas, ganhando assim o apelido de chamorros (tosquiados) pelo rei de Castela
na batalha de Aljubarrota. Mas a barba
ainda voltou a imperar em Portugal por diversas vezes, durante o reinado de
Pedro II (de Portugal) ele voltou a diminuir as barbas e Dom João VI a aboliu
por completo, sendo imitado pelos súditos.
O costume de barbas, bigodes e cabelos era tão
importante, que até pouco tempo no Brasil, para um jovem fazer a barba pela
primeira vez deveria pedir permissão ao pai, sendo a primeira barba acompanhada
por padrinhos e parentes próximos, marcando assim um novo ciclo de vida, um novo homem. Assim sendo as barbearias desde a época de
Roma Antiga sempre tiveram grande
importância na vida dos cidadãos. Em nossa região, dado a novos costumes as barbearias
tradicionais desapareceram e quase todos fazem a barba em casa. Vem da
barbearia o costume caipira de
dizer “arco, tarco e verva”, ou
seja, quando se tinha dinheiro sobrando dava para mandar fazer a barba e ainda
passar um álcool, talco e aqua velva e também o dito popular “fizemos cabelo e
barba”, quando o prefeito ganhava a eleição e ainda fazia maioria na
câmara.
Quem ilustra bem este costume das barbearias é Ignacio
de Loyola Brandão numa crônica a Revista
Caros Amigos – abril/1998: “Fazer barba sempre foi coisa de homem. Mesmo a
mulher barbada do circo não podia fazer a barba ou perderia o emprego. O ritual
do barbeiro – em extinção – era sagrado, aos sábados. No começo da tarde, os
homens iam chegando e a barbearia lotava, ás vezes pelas nove da noite que o
último freguês saía da cadeira. Porém o ritual do barbeiro nada mais era que
desculpa para conversar; para falar mal dos políticos, reclamar dos chefes,
falar bem e mal das mulheres, fofocar, trocar informações, enquanto ele raspava
o nosso rosto com a navalha Sollingen, afiadíssima. Não se podia ser inimigo do
barbeiro, sob pena de ficar na cadeira em um suspense formidável; era
necessário iniciação para não cortar a
carótida. O barbeiro, as vezes perguntava: “Quer uma toalha quente?” Maravilha,
amolecia os pêlos, custava mais caro.
Depois de barbear vinham o talco e álcool. Se você tivesse dinheiro,
mandava passar Aqua Velva. No sábado, os homens cheiravam a Aqua Velva, mesmo
que não tivessem ido ao barbeiro, comprava-se na farmácia, era a única loção
pós-barba. Depois, ela caiu de moda, cedeu lugar ao Pinus Silvestre e ao
Lancaster. E aí apareceu o creme Bozano, aquele que não necessitava de pincel.
Vai chegar o dia em que os homens depilarão o rosto a laser ou farão plástica
para eliminar a barba”.
Antes de fazer a barba neste sábado e ficar todo belo
e cheiroso, lembre-se que neste simples ato existe muito simbolismo e história,
e como recolheu um dia Câmara Cascudo em versos do norte: “Deus te dê o que deu ao bode, catinga, barba e bigode!”.
Prof. Valter Cassalho
Comissão Paulista de Folclore