CAIAPÓS
Para
sarar quem está doente e acordar quem está dormindo
Somos todos de baitará/A raça de
tupi/Somos marão de quá/Do chefe Caiubi. –Somu tudo inadara/da raça de
tupi/Somu barão de guara/Do chefe Itajubi.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-_4SnWJhGjnzFlGD-BAHpcDLDuJ16QqMMUxJo0itNIC1qHVeK17PlMASTecviQJUe1Lj6ZPfgu2mULiTs83a_Wf9Ys_83qNl5T6TiF-M2Qw0GFlq_SHkh56qSvnWjKFqKt8BnGRZYxIF4/s320/20170611_145355_resized.jpg)
Mas, o que é o
Caiapó? Quem são ou foram esses personagens que se vestem de penas ou palhas,
que tocam buzinas de chifres pelo meio das ruas em dias de festas?
O
índio sempre exerceu um fascínio no homem branco. Desde os primeiros contatos a
literatura e a pintura tem exagerado e fantasiado sobre este povo dos trópicos,
muitas vezes mostrando-os como ferozes canibais, outras como dóceis, ingênuos, belos e apaixonados
seres. Nossa cultura esta recheada de nomes, comidas e costumes indígenas. Os
desfiles carnavalescos trazem sempre estes personagens à tona, porém pecam
violentamente, utilizando cocares e adornos típicos de índios norte-americanos
(mais uma gafe da mídia enlatada).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAJ6HMCSfpHPA09hlbFpQJXe92YKag9vOsOJz7n4fEsL3DZKkwMHLZE3wn-QdbkOKCBAjEeofoYPdZjbc7peBfjLjaSGSa95uu1oTprKmDSabLEDCFUqhGkZSuN309HA-KTUgim5SO_Q-o/s320/20170611_144746_resized.jpg)
Este
bailado já era mencionado em São Paulo em 1793 e 1794 pelos festejos do
nascimento da princesa da Beira, herdeira do Trono de Portugal. Nestas citações
do século XVIII relata-se o uso de buzinas, vestimentas de penas de peru e
palhas. Este folguedo seria uma imitação
dos índios caiapós do sul, que
dominavam os sertões na época dos bandeirantes, suas tribos situavam-se entre
as cabeceiras do Araguaia e a bacia superior do rio Paraná. Os caiapós do norte
vivem até hoje na região entre o Araguaia e o Xingu no norte do rio
Topirapé. Os primeiros
desbravadores (e escravizadores de
índios) encantaram-se com os cânticos e
danças dos caiapós do sul, a tal ponto que a
encenavam na vila de Piratininga e localidades adjacentes.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgapEOoPKOJWA5IOCvyQgvTCvh5QQjRjm4iAKWVYGl5TekX81oHhq-aQ2fbg0n7PC6ZJsE50TpVGnKJ1gMHPi-M3NtZKA03zohZQpV0fglgBnW3BPpZ-MD2aV-4qtTm4JG5AtvpCIlomyRe/s320/20170611_144703_resized.jpg)
Em alguns casos a figura de
cacique-pajé (Tuxaua-pajé) é divida em dois personagens, o cacique que comanda
o grupo, pai de Macuru e o altivo e orgulhoso pajé que faz a cura (caso de
Joanópolis). Em outros o cacique possui a dupla função de líder e pajé, sendo o
Macuru filho de uma das mulheres da
tribo (exemplo Piracaia). Neste último, há algumas décadas, como as mulheres
não participavam da dança um dos
elementos vestia-se como mulher e mãe do referido curumi.
Os
caiapós fazem-se acompanhar de variados e variantes instrumentos,
caixas-de-guerra, tabuinhas, reco-reco, cuíca (puita), tambu, pandeiro e
aricongo, em alguns casos queixadas de vacas e burros, sendo constante a
presença da buzina feita de chifres. Trazem lanças, arcos, flechas e outros
utensílios enfeitados.
Desta
forma, este folguedo é uma lembrança encenada
a céu aberto sobre os maravilhosos rituais de pajelança de nossos ancestrais, não apenas
uma alusão aos caiapós do sul, mas também, a toda nação indígena, inclusive aquelas que
residiram nestas localidades (os guarús ou guarulhos e outros). Que estes rituais, apesar de simbólicos,
exorcizem nossas cidades e tragam
fertilidade, cura e energias positivas para todos nós.
Valter
Cassalho