(p/Valter Cassalho)
Joanópolis um dia chamou-se Curralinho e foi neste curral de montanhas que um grupo de entusiastas fazendeiros resolveram fundar numa festa de São João a vilinha de São João do Curralinho. Seus nomes estão hoje em placas das ruas de nossa cidade, como o Antonio Ferreira de Almeida, Luiz Figueiredo, Godofredo Frederigue, João José Batista Nogueira, João Wohlers e Anselmo Caparica, entre outros. Nas fotos sempre vemos esses homens austeros, não se ria para tirar fotografias, não se mostravam os dentes numa época que não haviam dentistas e poucos tinham o hábito de escová-los. Bem, mas ao contrário do que tudo indica e em boas prosas com seus descendentes chegou até mim que estes homens coronéis orgulhosos de seus bigodes, tinham um senso de humor notável, em especial o Estelita Ribas, o Coronel Figueiredo, o Godofredo e o Anselmo Caparica falecido em 1902. E foi numa dessas prosas gostosas que sua neta Maria do Rosário contou como seu avô ficou conhecido como um dos primeiros lobisomens da recém fundada São João do Curralinho (1878) . Contam que a fama do Anselmo e seus amigos entre o povo mais simples não era das melhores, foram vistos várias vezes alta madrugada andando à cavalo pela vila, e os compadres nas janelinhas das casas naquela espiadela viam estes garbosos homens indo e vindo pela noite escura. No outro dia.....
-“Cê viu cumpadre o nhor Ansermo, com o Coroné Figueiredo e o Chico Wohlers ???”
–Escuitei o trote cumpadre, esses homens prá e pra cá de noite, andam com essa coisa de maçonaria, ai Jisuis !! Isso é coisa do demo!! “ Vixi Santa Maria!”
A conversa sempre parava num sinal da cruz e pronto, mas mal entendiam que estes homens iam e vinham em visitas em lojas maçônicas para fundá-las na região como a de Bragança, a de Piracaia e a de Joanópolis “Moral e Liberdade” fundada no inicio do século passado.
O que se sabe que já nesta época tinha um peludo uivando pelas cidades assustando os moradores. Todos especulavam quem seria o tal lobisomem do Curralinho. E foi numa dessas noites escuras que formou um temporal com uma ventania de meter medo, coriscos clareavam o céu e os trovões tremiam a terra. Estrondos daqui e dali, na casa dos Caparicas dona Bruna e filhas rezavam e queimavam como de costume, palma benta no fogão para espantar o temporal. Foi neste momento que o Anselmo notou a falta de seu cachorrinho de estimação, um pequeno cão que vivia no colo das crianças. O bichinho tinha sumido saído na rua minutos antes do temporal. Caía a torrencial chuva e o Anselmo viu o pobre bicho acuado embaixo do beiral da casa vizinha. Fazendo o gosto das filhas e com dó do pobre cão, Anselmo (que não era um homem pequeno) pegou uma baeta (lã felpuda) se enrolou todo e correu para pegar o cãozinho. Quando se abaixou para pegar o animal que já chorava e latia com medo da chuva e quase já protegido no colo do dono, passaram em disparada três homens que foram surpreendidos pelo temporal e tentavam buscar abrigo e num estalo do relâmpago que clareou toda a rua viram um bicho esquisito, enorme, peludo, abaixado, com a parte traseira maior que a dianteira atacando um pobre cachorrinho. Aos gritos saíram correndo clamando para Santa Barbara (protetora dos raios) e Creio em Deus Pai (que afasta qualquer coisa ruim). Anselmo voltou para a casa e no outro dia estava o comentário geral de ouvido a ouvido. Os dois compadres na janela um do lado do outro...
–Nhor Ansermo é lubisóme cumpadre!
-Falei cumpadre !! Esse negócio de mação só podia dar nisso, é lubisóme memo, viram ele virando ontem a noite e correndo pela rua.
-Deus nos livre! Cruiz Credo!!
Bem, o tempo passou e a fama do Anselmo ficou, tanto que com seu bom humor ele e décadas mais tarde o Godofredo que era um baita italiano e gostava de ficar nas jogatinas da noite, batendo um carteado e altas horas vinha embora com sua capa de frio, quando via alguém vindo em sua direção adorava abaixar-se e correr meio de quatro pela rua para dar sustos nas pessoas e depois ao chegar em sua casa morria de rir da situação.
E compadres ainda na janela:
-Ave Maria cumpadre – o Godofredo tamém é lubizome!
-Vade retro – cruiz credo! Esse mundo tá perdido.
-Nhor Ansermo era lubizóme e o Godofredo agora tamém.
Por ironia do destino, verdade ou mentira, o fato que sua neta a Maria do Rosário filha de Maria Caparica publicou em 1983 um tratado sobre lobisomem ou seja seu livro LOBISOMEM ASSOMBRAÇÃO E REALIDADE e acabou dando a alcunha de Joanópolis a outrora Curralinho de seus avós como CAPITAL DO LOBISOMEM.
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