ETA SODADE DAS FESTAS DANTES
Hoje tudo
mudado, os fio da gente vão pras escolas dança quadrilha e coitada da
professora que parece que nunca viu caipira na vida; manda a criançada por
camisa xadreiz, carça jeans e bota de bico fino e aquele chapelão de firme de
cinema. Da inté dó e ainda por cima
mandam enchê a roupa de remendo e tocam
umas musicas que nem a gente gosta e pra piorá e fazê poco-caso da gente pinta
os dentes de preto, como se nóis fosse tudo desleixado. No nosso tempo, caipira
ia pra quadrilha de terno, alinhadinho, nem que fosse terno pegando foguete,
chapéu de paia novinho em foia, barba feita cheirando agua verva, sapatão novo
e carça vincada de brim, na estica! Música de quadrilha, pra nóis era Moreninha
Linda ou o Mario Zam fazendo levantá
poeira no arrasta pé.
Tempo bão
aqueles. Nóis guardava dinheiro e vinha pra festá, comprava roupa nova,
brinquedo pras criança, argodão doce de
segurá com paper de pão, puxa-puxa e cartucho de amendoim. Brinquedo pra nóis
era as bolinhas de pó de serra amarrada no elástico, patinho de madeira que
quando andava batia as asa, bexiga
colorida e cata-vento. As muié aproveitava pra comprá umas panela nova,
uns vestido mais moderno, umas blusas de lã, enfeite pro cabelo e outras coisa
mais. Dispois nóis reunia em frente da igreja e ficava escutando os violeiros,
as moda de Tião Carreiro e Pardinho, Liu e Léo, Tonico e Tinoco, Jacó e
Jacozinho, forante as piadas e desafios
de corria pro meio e dispois ainda terminava tudo num catira gostoso, com muito
quentão.
Congada e
Moçambique tinha o dia todo e tem gente que acha que os dois é a mesma coisa.
Caiapó queimando porva pra lá e pra cá, vinha inté de outras banda e dispois
reunia tudo pra conversá. Banda era o dia inteiro, uma revezando com a outra, num bailado loco de gostoso. As rua
cumpadre, tudo enfeitado de bandeirinha colorida e taquarinha pra procissão passá, a igreja intão
tinha luizinha de cor de cima em baixo, uma belezura que só veno. Tinha arvorada, com banda e muito foguetório
e mortero! Tinha o homem da cobra
vendendo remédio com uma sucuri na mala e até muié que virava macaco.
Agora põe
este parque que acaba com dinheiro e as criançadas fica que nem loco, as
musicas uma moda de fazê boi durmi de tanta cornisse ou senão uma baruiera e
gente rebolando que não acaba mais.
Politico então, é um tar de pegá na mão que a mão da gente parece inté
fita de pé de santo.
Sodade
daqueles tempo cumpadre, sodade de tudo, da festa gostosa que reunia tudo
mundo, sodade da viola, da sanfona, das paçoca, do afogado, do quentão, da
procissão que de tanta gente passavam uma corda no meio, das brincadera, do
leilão. Sodade das fogueira, dos mortero, das modas, das quadrilha, de tudo.
Tempo bão aqueles! Eta sodade marvada!
Valter
Cassalho
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