15 de AGOSTO - NOSSA SENHORA DO BOM
SUCESSO
OS
MISTERIOS DA CARPIÇÃO
O que
faz este povo nestes dias de agosto junto a capela a carregar terras de um lado
para outro? São homens, são mulheres,
gente simples do povo, devotos em sua fé, antigos em suas tradições, senhores de
seus costumes. Sol quente de agosto, vão para lá e para cá e carregam terras de
um lado para outro, com respeito, seguras no lenço, em papeis ou com amor nas palmas das mãos; a depositam
com carinho do outro lado de uma capela. Capela do sitio, da roça, capelinha
branca da serra, pra nossa senhora, senhora do Bom Sucesso.
Isto é a CARPIÇÃO, ritual praticado na primeira
segunda-feira do mês de agosto e repetida no dia 15 do mesmo mês. O ritual
consiste em carregar (por três vezes) em
um papel, pano ou mesmo nas mãos um pouco de terra próximo a igreja dedicada a
Nª Sª do Bom Sucesso e depositá-la do outro lado da mesma. Muitos fiéis seguram a terra junto a locais afetados por
alguma enfermidade.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh26j24-IU9lleAmrF5Cojs_3NsWAZrNGHTOP-PwJx2UI8bz9U0gb4-lrMsJaoNd5RZQd6ajYY-kE5VkkO7ixcwRbsZIu9b1O4RQ8IC_Jbp6NFRWL0fiXkrOQKzWPG66NAL-MfdV2XGn7l8/s200/CArpi%25C3%25A7%25C3%25A3o2.jpg)
De acordo com o livro "Maria e seus gloriosos títulos", Edésia
Aducci, ed. Lar Católico, 2ª ed, Nossa Senhora do Bom Sucesso tem a seguinte
história: “Na cidade de Lisboa houve uma senhora muito ilustre, D. Eyria de
Brito, filha de João de Brito e de D. Antônia de Atayde. Quando tinha apenas 14
anos, seus pais a casaram com D. Diogo Forjas Pereira, Conde de Feira.
Enviuvando aos 18 anos, casou-se novamente, obrigada pelos parentes, com o
primeiro Conde de Atalaya, D. Francisco Manoel. Era a Condessa D. Eyria muito
virtuosa e muito devota de Nossa Senhora, e desejava muito ter uma imagem sua;
no tempo em que andava com este desejo, foi à sua casa um peregrino com uma
imagem de Nossa Senhora para vender; assim que a Condessa a viu, afeiçoou-se à
imagem, de sorte que mandou dizer por um criado que ficava com a imagem, e que
visse o que pedia; foi o criado, e não achou mais o peregrino: desaparecera, e
ninguém mais o viu. Ficou a Condessa muito alegre, e muito mais ainda, julgando
ser aquilo obra de Deus e favor que sua Mãe Santíssima lhe fazia. Colocou-a logo
em seu oratório, onde ouvia Missa. A imagem era própria para ser vestida,
formada em meio corpo de madeira de bordo, com braços de engonço, e assim só
tinha a cabeça e as mãos encarnadas. Estas imagens chamavam-se imagens de roca.
Estava vestida de cetim amarelo guarnecida de verde; mostrava tanta majestade no
rosto, que em todos os que a viam infundia uma grande veneração e respeito. E
assim não parecia ter sido feita por mãos de homens, mas pelas mãos dos Anjos.
Tinha de altura dois palmos e meio. Não sabia a Condessa o título que a santa
imagem tinha, porque o peregrino não o disse; mas, porque não trazia Menino, a
Condessa a vestiu de branco com escapulário azul e a intitulou "da Conceição"
(concepção - concebida). E com este título começou a invocá-la. O ano certo em
que isto sucedeu não se sabe; porém como foi em vida do Conde de Atalaya, e este
morreu no ano de 1629, é certo que foi alguns anos antes. Depois que a Condessa
fundou o Convento, as religiosas Dominicanas puseram o Menino nos braços da
imagem e deram-lhe o título de "Bom Sucesso", por revelação que teve uma
religiosa, tornando-se a padroeira da casa”.
O RITO de
carregar a terra como elemento de cura, como reinterpretações de ritos da morte
(lembrando que era costume jogar três punhados de terras quando sepultava
alguém), bem como o dito popular “a terra que dá, a terra que come”, e ainda a
questão de nascer da terra (barro) e voltar a terra (ao pó), deixam uma grande
área de pesquisa e novas interpretações. (Valter Cassalho).
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