80 ANOS DA
REVOLUÇÃO DE 32
Oitenta anos da revolução de 32 neste 09 de julho!
Data magna do Estado de São Paulo, uma data que orgulha a todos os paulistas. O
desenrolar da revolução de 1932, desde o dia 23 de maio com a morte dos quatro estudantes (Martins,
Miragaia, Drauzio e Camargo) até o seu término no inicio
de outubro, deixaria profundas marcas no povo paulista, principalmente para os
habitantes do Vale do Paraíba. Com o estouro da revolução em 09 de julho ficou
claro que este Estado guerreiro de origem Bandeirante não iria retroceder em
seus ideais. Mesmo sem o prometido apoio de Minas Gerais e Rio
Grande do Sul, São Paulo resolveu continuar a guerra, contando com a tropa
rebelada de general Bertoldo Klinger do Mato Grosso. Somando estas tropas com
a Força Pública Paulista e diversos
voluntários, nossas forças não ultrapassavam a 35.000 homens contra a poderosa
marinha, aviação, homens do Governo Central
e mais a Brigada Gaúcha e outros contingentes que ultrapassam a 100.000
soldados. Todavia, o conflito apesar
deste desequilíbrio durou cerca
de três meses. Em setembro os mineiros já tinham ocupado as cidades de Jundiaí
e Itú, avançando em direção a Capital Paulista. As forças fronteiriças foram
capitulando até que em primeiro de
outubro representantes da Força Pública reuniram-se na cidade de Cruzeiro (Vale
do Paraíba), com o general Góes Monteiro representante das Forças Federais,
rendendo-se e pondo fim ao conflito.
Mas, se São Paulo perdeu a guerra, por que os
paulistas se vangloriam tanto deste acontecimento? Além do heroísmo,
patriotismo, civismo, luta pelo direito de representatividade, o Governo
Federal de Vargas percebeu a impossibilidade de se ignorar a elite política de
São Paulo; os paulistas estabeleceram um novo compromisso com a União e no ano
seguinte conseguiram a nomeação do tão
almejado interventor civil e paulista, nada menos do que Armando Sales de
Oliveira, cunhado de Júlio Mesquita Filho, diretor do jornal O Estado de São Paulo. Neste mesmo ano
baixou-se o decreto reduzindo os débitos dos agricultores atingidos pela crise,
bem como a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. Perderam a
guerra mas conseguiram seus objetivos, depois de 32 as bases do Governo Federal ficaram abaladas
e novas consciências políticas foram dramatizadas no contexto político
brasileiro.
Nossa região, em especial Joanópolis e outras
cidades fronteiriças tiveram sua parcela de contribuição, fornecendo alimentos,
abrigo, doando jóias e ouro. As forças Constitucionalistas tiveram o apoio das
linhas de trem da região, voluntários
tornaram-se soldados, bloquearam estradas de acesso e as divisas com Minas Gerais.
Ainda muitos de nossos
cidadãos contam orgulhosos do período da revolução de 32, quer seja pela
participação nas trincheiras, quer seja pela tensão criada em referido período.
O rádio era uma raridade, os jornais da capital demoravam para chegar, mas
mesmo assim os joanopolenses acompanharam ansiosos o desenrolar dos
acontecimentos.
Logo no dia 12
de julho chegaram os primeiros soldados em nossa cidade, pertencentes ao
Batalhão sediado em Bragança Paulista,
sob comando do Coronel Morino. De
inicio instalaram-se na antiga casa dos
Figueiredos (na Praça Pe. Domingos Segurado - hoje casa do dr. Airton Pinheiro)
e formaram um posto de comando na casa do sr. Vicente Zappa ao lado do Cine
Teatro Recreio (hoje farmácia do dr.
Djahy Tucci) que foi usado como armazém para os suprimentos da tropa,
ocuparam também o Posto Telefônico o
qual era chefiado por dona Marcolina Cuoco Pereira.
Imaginem a novidade, os comentários e
apreensão que se instalou. O medo de uma invasão por parte de Minas Gerais
aliou-se com a preocupação das conseqüências do conflito armado. Os inspetores
de quarteirão começaram a convocar
pessoas para abrir trincheiras nas divisas com Minas, em especial nos bairros
dos Carvalhos, Forjos, Posses, Azevedo e
Abel. Na cidade o delegado de policia Theotônio Sant´Anna e o prefeito Estelita
Ribas, trabalharam para manter a ordem,
recrutando cidadãos e fornecendo todo tipo de ajuda aos soldados. A população se uniu num clima de
hospitalidade, amenizando o desconforto dos soldados nas trincheiras,
principalmente pelo intenso frio de julho,
começaram a mandar comida, roupas e cobertores; diversas mulheres, lideraram
grupos para confeccionarem boinas,
uniformes, agasalhos. O clima de tensão passou a ser substituído por um clima mais tranqüilo, chegando mesmo a
realizarem festividades e recreação no sentido de espantar o pessimismo. Diversos
fazendeiros doaram armas, munições e animais, bem como formaram com os colonos
verdadeiras frentes de defesa de suas terras.
No dia 07 de
agosto, o sr. Esmeraldino Pereira chegou das trincheiras, informando que onze
oficiais e um civil, fugitivos de São Paulo, foram capturados quando tentavam
escapar para o Estado de Minas Gerais, após chegarem a cidade e conduzidos para
a cadeia, foram transferidos para a capital do Estado. Um outro fato abalou a
cidade, um dos oficiais, nas trincheiras no Pau-do-Corvo, na fazenda do sr.
Olivio Badari, errou a contagem de uma
granada alemã, e esta estourou em suas mãos, vindo o mesmo a falecer nos braços
do sr. Hirami Politi, o qual serviu como
motorista dos Capitães Moraes e Picher no patrulhamento das trincheiras.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm_f0oZo1APOdecIhtsYewY4GyfHDmCp6hhmNDCeDF85Ueq1Iq9ti5UGLrfBmx9_lzpSIPZ7qnmkPIIkZfGgZC0Fp9Zj_vfM83YFI4lybNTRmTrDkYJjm5XIWBByHoReVSEugNLTGBC59T/s320/OUROSP.jpg)
No caso de
invasão do município, ficou decidido que após um sinal de morteiro, a população
deveria refugiar-se no bairro dos Pintos, onde existiam grandes fazendas
próximas uma das outras e de ampla visão das
estradas e da cidade. Todavia, no dia 20 de agosto um estouro
assustou a população, até mesmo um velório (Valeriano
Tacito) foi abandonado, porém, o alarme foi falso, o estouro ouvido foi dado
por um vigia que confundiu-se com uma movimentação de pessoas
no bairro das Posses, sendo na verdade um
casamento e não tropas inimigas.
Tanto Joanópolis quanto Extrema não poderiam
se defrontar, pelo fato de terem muitas famílias unidas pelo casamento, criando uma
parentela mineira e paulista, fato esse
que deixava ambos os municípios em uma agonizante situação. Graças a Deus o
conflito em nossa cidade não chegou a acontecer. Tivemos uma participação
cívica e honrosa, muitos participaram diretamente, tais como o sr. Manoel Lopes
de Carvalho, cabo do Esquadrão do 3º Batalhão da Força Pública de Itapetininga,
sendo ferido no combate de Itararé; Geraldo Fernandes Oficial da Força Pública,
rádio-telegrafista no Palácio do Governo; o saudoso Aristides Bragion, espião
do Batalhão 09 de Julho, cargo esse que lhe rendeu dois meses de prisão após a
revolução. Cito ainda, José Amorim, Ademar Ramos, Luiz Valle, Manuel Cambuí,
Benedito Moscardini, Mario Melo, Dr. Felicio Nogueira, João Toledano Sanches,
Irineu de Souza Bueno, entre inúmeros
que trabalharam e colaboraram com São Paulo, que dada a extensão dos nomes
deixo de citar. Mas, a todos estes
Revolucionários Paulistas, que sonharam e lutaram pela garantia da cidadania e
o exercício livre de nossos direitos, o nosso muito obrigado.
Aristides Bragion foi meu avó. Eu convivi muito pouco com ele mas me lembro muito bem de suas historias. Ele relutava em contar sobre a revolução e o que ele fez. Fiquei muito feliz pela citação a ele neste blog. Irei guarda lo com carinho.
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