COMO SE MORRIA EM JOANÓPOLIS
Joanópolis
fundada oficialmente em 1878, mas com menção de sua existência como extenso
bairro desde 1830, teve seu primeiro cemitério regulamentado somente em maio de
1893, anterior a esta data, os mortos
eram conduzidos até a sede do município (Piracaia). Podia parecer pouca distância quando pensamos
em trilhas ou somente na atual localização da cidade, mas tornava-se dificultoso quando a morte acontecia em bairros distantes
como o Bonfim, Pretos, Sertãozinho, Pinhalzinho e outros. O Decreto Municipal nº 02 de 1897
regulamentava o cemitério com mais de 40 artigos sobre procedimentos, normas e
restrições, entre eles destacam-se os artigos 11 e 12 os quais estipulavam
sepultura com dois metros de profundidade em local especial para pessoas
falecidas de doenças epidêmicas ou contagiosas. O prazo mínimo para
enterramento era de vinte e quatro horas (salvo exceções) e permitia-se ainda jogar sobre os cadáveres vinagre, cal ou
quaisquer outras substancias que facilitassem a decomposição.
Os caixões
feitos em tábuas eram privilégios de famílias mais abastadas, bem como o
transporte em carroças ou carros de boi; alguns carpinteiros passavam a noite
no serrote e martelo confeccionando os ditos caixões, os quais eram forrados e
enfeitados pelas mulheres, enquanto isso o corpo inerte aguardava sob uma mesa
ou na própria cama. A grande maioria até meados deste século eram conduzidos no
chamado bangüê, ou seja, um lençol traspassado por um taquaruçu e levado nos ombros de dois
fortes homens. Quando aparecia pouca
gente para o velório e respectivo enterro, competia ao inspetor de quarteirão
convocar sob a força da lei homens para conduzir o corpo. Com a inauguração do
cemitério a situação melhorou bem mais, porém o translado nos ombros ainda
continuava a ser penoso.
A grande
maioria morria nas casas, com uma vela acesa nas mãos e rezas ao redor, dando a
segurança da luz divina para o novo mundo. Para todo morto sempre existiram
bons cristãos, após expirar, o novo defunto deveria ser lavado, penteado e
quando homem barba feita na navalha. Para facilitar o banho e a troca de roupas
nada melhor do que um bom papo com o mesmo, pois acreditava-se que falando com
o morto, ele ficava mais maleável. Até
meados dos anos 40, era comum o uso da mortalha, um pano roxo ou branco enfeitados com galardoes e despontado nas
pontas, nada de nós ou amarras para não prender o espirito. Para ficar com
a boca bem fechada amarrava-se uma tira
de pano na mesma a qual deveria ser solta antes do enterro, alguns ficavam de
olhos abertos e nada os faziam fechar,
exceto quando “viam” o derradeiro parente ou amigo, assim satisfeitos fechavam
os mesmos sozinhos. O corpo vestido, sob
a mesa ou cama recebia flores (dálias, lírios, primaveras e as prediletas
hortênsias E melindres). No decorrer da
noite o defunto poderia começar a inchar, a barriga a crescer, nada melhor do
que uma chave em cima do peito para impedir que isso ocorresse, as vezes era
necessário sacudi-lo um pouco, de leve, para ver se o pescoço estava
enrijecido, pois pescoço mole era sinal de que algum da família morreria em
breve. Uma outra crendice no caso de
morte matada (homicídio) era colocar uma moeda na boca do falecido, isso
impedia que o assassino conseguisse
fugir, porém, existem relatos de almas que decorrido anos, voltaram para pedir
que retirassem do cadáver a moeda, a qual impedia seu sereno descanso.
Um bom exemplo
destas crenças foi muito bem interpretada em Morte e Vida Severina
reapresentada pela Rede Globo, inclusive aparecem os irmãos das almas,
convocados ou voluntários que auxiliam a carregar o bangüê, bem como os Cantos
de Incelências. Apesar de muitos destes
costumes terem desaparecido, os defuntos ainda passam por vários rituais,
simpatias e convenções (banho, rezas,
velas, posição, roupas, etc) para que parta em paz para sua nova morada.
A versão mais
confortadora da morte que já ouvi neste mundo caboclo foi sobre morte de
crianças, as quais eram vestidas de branco ou até de anjos, sendo o velório bem curto, com a proibição do
choro pelo falecido, pois as lágrimas
podiam molhar as asas dos anjos que vinham buscar o novo companheiro!
Valter
Cassalho
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