A FESTA DE SANTA CRUZ – 03 de
maio
Há pouco tempo
o mês de maio era considerado um mês especial, era o mês das noivas, das flores
das laranjeiras, das festas de casamentos e em especial (até hoje) o mês de
Maria. Dentre estas festividades, no mês de céu azul intenso e precursor do
inverno, realizavam-se em quase todas as capelas, a Festa de Santa Cruz.
Dias antes, preparavam-se arcos com taquara, flores naturais e de papel,
limpavam as capelas e adornavam-nas caprichosamente para que no dia 03 de maio,
realizassem terços, rezas e preces.
Reunia-se o bairro e após a reza partiam para um café com pão, leilão,
rojões, comentários e cantorias. As cruzes ficavam recobertas de pequenos
enfeites de papel e muitas das vezes eram coroadas com as mais diversas flores
e cores.
Nestes locais
eram depositadas imagens de santos quebrados, pois não era bom joga-las no lixo
ou na água, o lugar mais apropriado era
a Santa Cruz; daí vemos muitas cheias de santos velhos e quebrados até hoje.
Neste local também se deixavam esmolas para as almas, principalmente moedas e
dinheiro miúdo, nascendo daí a expressão quando estamos com dinheiro amassado
ou muito trocado, dizerem dinheiro de santa cruz ou assaltou a santa cruz.
Além de
funcionarem como um marco de referencia
de divisas de propriedades, posse e
jurisdição, as mesmas eram utilizadas para se encomendarem as almas na
época dos Cânticos de Alerta (Quaresma), para abençoar locais onde ocorreram
mortes violentas, dando maior sossego as almas e impedindo que assombrassem os
locais.
Desde a década
de 70, estes costumes vem desaparecendo pouco a pouco. Um dos vários motivos,
deu-se através da modificação do Calendário da Igreja Universal, que suprimiu o dia 03 de maio em favor do dia
14 de setembro, ou seja, o real dia da Exaltação de Santa Cruz.
Mas, por que o
três de maio? A história conta que: Santa Helena, mãe do Imperador Constantino,
encontrou a verdadeira cruz de Cristo em Jerusalém e a apresentou (exaltou) aos
fiéis em 14 de setembro do ano 335. No entanto,
dado as guerras com os Persas, a Verdadeira Cruz acabou sendo roubada e
desapareceu. Somente no reinado do Imperador Heráclito, foi resgatada no ano de
630 e segundo as tradições o próprio Imperador fez questão de levá-la nos
ombros desde Tiberíades até Jerusalém, onde foi entregue ao Patriarca Zacarias
no dia 03 de maio; nascendo daí
grandes festividades pela data.
Com a vinda
dos portugueses e a evangelização por parte dos jesuítas, a cruz foi imposta
aos índios e arraigou-se por entre os mestiços que mais tarde comporiam os
sertões, aldeias e arraiais. Foram estes
que tomaram gosto pelo culto a Santa Curuçá (de acordo com os tupis), ou Santa
Curuzu (dos guaranis), sendo comemorada a 03 de maio, com grandes festividades
e cantorias, como até hoje se fazem na Aldeia de Carapicuiba.
No Brasil, a Terra do Cruzeiro do Sul,
chamado no inicio de Vera Cruz e Santa Cruz, teve estas festividades muito
expressivas dentro de sua formação cultural. Joanópolis, teve seu inicio
marcado por uma Santa Cruz, contígua a casa de Domingos Fernandes de Almeida
(1878), onde realizou-se a primeira festa de São João. No início do século o da
Cachoeira dos Pretos, tinha o nome de Santa Cruz do Salto e a capela dentro
cemitério era dedicada a Santa Cruz (1893),
sendo substituída somente com a reforma ocorrida em meados da década
de 50. No entanto, existe do lado de fora do mesmo, junto a antiga
estrada que dava acesso a Piracaia, uma capela dedicada a Santa Cruz, que foi
reconstruída por Oscar Bueno de Camargo
por volta da década de 60, onde ocorriam grandes festividades em maio. Quando
construíram o Largo da Cadeia e Paço
Municipal, erigiu-se um belo Cruzeiro, que infelizmente foi demolido (1979) e
nunca mais reconstruído. Por toda a zona rural, ainda espalham-se diversas
capelas dedicadas a Santa Cruz e dezenas
de cruzeiros em locais onde ocorreram mortes violentas.
Na última visita do Papa ao Brasil, o
presidente de Honra da Comissão Paulista de Folclore, o jornalista Hélio
Damante, enviou uma carta pedindo ao santo padre, que se restabelecesse a festa
litúrgica da Santa Cruz em 03 de maio.
Enquanto isso não ocorre, deixamos a festa a quem ela pertence, ou seja, ao
povo, que olhará saudoso para o alto de qualquer igreja e verá no resplandecente
céu uma imponente cruz e se mesmo assim não vislumbrar a cruz dos homens, com
certeza, a noite, lá no céu estrelado de maio, verá o Cruzeiro do Sul, derramando bênçãos eternas
sobre o Brasil, a terra de Santa Cruz.
Prof.
Valter Cassalho
Comissão
Paulista de Folclore
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