MEU SÃO GONÇALO,
MEU SÃO GONÇALINHO !
Ô santinho
andejo! Por isso gosto de São Gonçalo, num é de parar em altar por toda a vida,
ficar lá empoeirado, esperando alguma beata de muito de vez em quando tirar ele
com todo respeito e dar uma limpadinha. Ele sai toda hora, gosta de sair, de
passear. Ora está num altar, ora está num balainho de taquara enfeitado de
fitas e flores de crepom, colorido, garboso e bonito demais. E lá vai ele, nas mãos de um fiel ou
promesseiro, saindo feliz sacolejando no
balaio, chega numa casa é recebido com alegria, pêgo com a mão direita ou ambas
as mãos, já ganha beijo e visita todos os cômodos, vai no colo de moça
casamenteira, vai na cama de algum doente, passeia e abençoa todo mundo. Mas
não pede pouso, já despede, ganha beijo
e sai de novo, nas estradas poeirentas e nas ruas da cidade, de capa nas costas, chapéu de aba larga, bem
trajado e de violinha nas mãos. Com esse
costume e passeador só podia ser violeiro! Anda de lá para cá, ouvindo uma
prece aqui, recebendo um pedindo ali, fazendo uma folgança acolá. O santinho é
português, mas parece bem brasileiro nessas suas andanças e aventuras pelas
casas dos fiéis.
Recebendo o
ajutório, a esmola, a reza, a bênção, volta pra casa e descansa uns dias, mas
nem esquenta bem o altar já tão com ele nas mãos de novo e lá vai o violeiro,
santo cantador, agora mais bonito ainda, num andor, carregado por alegres
fiéis, que dão vivas ao seu nome e sua santidade, vai pelos ares, olhando tudo
de cima, pomposo e até soberbo as vezes. É recebido pelos outros santos, para sua festança. E já sai do andor e está no altar enfeitado
de flores e velas com muitos santos convidados
postos sobre toalha branca,
perfumada de flores de todo tipo. Etá
santinho festeiro!
Mal acabou de
chegar ganha beijo de todo mundo e vai dançar, passa de mão em mão, passeia nas
voltas, vai para lá e para cá, no meio do cheiro de gente suada de tanto
dançar, no cheiro da pólvora dos rojões, no bafo do afogado na panela, na
fumacinha do café coado na hora.
É português,
mas parece brasileiro! Nem exige muita mesura, nem incensos, roupas, e muita
pompa. O negócio dele é estar no meio de todos, no cheiro e sabor do povo, no
repique de viola, na dança, na roda, no altar singelo feito por mãos de simples
fiéis. Está ele nas mãos de todos, no barulho do bate pé e bate palma, no
levantar da poeira. São Gonçalo não liga
para poeira, nem para silêncio, ele
gosta mesmo é do barulho, da alegria, da festa, da viola; de gente contente,
que mesmo pedindo tantas graças e milagres, vem feliz falar com seu santinho,
falar direto, ao pé do ouvido, na cantoria mesmo. E ele atende todo mundo. Sua reza dura muitas
horas, então há tempo para atender todo mundo, sem pressa, na maior e santa
paciência.
Santinho
sabido, há oitocentos anos, já usava da cantoria e dança para ensinar os fiéis,
o que tem de padre copiando São Gonçalo
hoje não é brincadeira!!
Aprenderam bem a lição, só espero que usem o dinheiro como meu santinho
usava.
Eta santinho
que eu gosto! Meu São Gonçalo, meu São Gonçalinho, abençoai esta gente morena
do Brasil, esta gente mestiça, que também é portuguesa igual ao senhor, mas é
brasileira, e o senhor tem esse jeito de brasileiro, e no Brasil, muita gente
canta e dança pro senhor. Então meu Santinho, se o senhor não é de ficar parado
no altar, acho que também não é de ficar parado aí no céu, então eu tenho
certeza que o senhor sempre acha um tempinho para vir visitar a gente por aqui,
nos seus altares, nos balaios, nas tuas festas, e em cada violeiro, rezador ou
fiel que faz um pedido pro senhor, por favor, e mais uma vez ROGAI POR NÓS E
ABENÇOAI ESTE POVO BRASILEIRO QUE LHE QUER TÃO BEM. !!
Viva meu São Gonçalo !! Meu São Gonçalinho!!!!
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