Mas, será o Benedito...!?
São
Benedito é um dos santos mais populares do Brasil, principalmente na zona rural
da região sudeste, onde se concentra grande parte da civilização caipira. A
intimidade com os santos é uma constante dentro do nosso universo caboclo, no
qual atribuem-se fortes personalidades, lendas e superstições sobre os mesmos. Na crença cabocla São Benedito é um
santo muito milagroso, porém brabo e exigente como ele só. Rei dos Congos e
Moçambiques, o mesmo tem o privilégio de ser o primeiro em tudo. Seu andor é o
primeiro a ficar pronto e o primeiro a sair da igreja para liderar as
procissões. Mesmo nas rezas de São
Gonçalo prepara-se um andor para este santo e no altar do santo violeiro ocupa
lugar de destaque. Se desrespeitado sua vingança ocorre com vendavais,
tempestades ou chuvas na ocasião das festas.
Contam
que, numa festa de São João era comum os andores serem enfeitados na casa de um
dos festeiros para retornarem a igreja na véspera do dia do padroeiro. Levados
em procissão para uma fazenda próxima a cidade, chegaram de forma desorganizada
e foram espalhando os andores, quando chegou o São Benedito, não havia lugar
separado para o mesmo e o fanfarrão e abusado festeiro mandou que o colocassem
no porão, pois lugar de escravo era na senzala. Admirados, muitos fiéis ficaram
preocupados, foram ao porão e receosos enfeitaram o santo de vermelho (sua cor
predileta). O amanhecer véspera da festa não trouxe bons sinais, nuvens pesadas
foram se juntando e na hora de saírem com as imagens houve um grande temporal,
cujos ventos de tão fortes destruíram as barracas na cidade e por fim levou boa
parte do telhado da casa do festeiro. Choveu dias seguidos e não houve festa e
nem procissão em louvor aos santos.
A
nossa Igreja Matriz possui uma belíssima
imagem de São Benedito e o seu andor é caprichosamente forrado, com esplendores
ricamente ornamentados em flores e as
vezes até iluminado. Em todas as procissões em louvor aos santos era o primeiro
a descer solenemente as escadarias da igreja, com diversos andores atrás de si.
Na festa de São João seu andor recebia o mesmo tratamento a altura do padroeiro
e ficava exposto na igreja.
Nas
casas a tradição manda que sua imagem fique sempre na cozinha e não nos oratórios,
pois consta que o mesmo foi um grande cozinheiro e sua presença neste cômodo
garante fartura e proteção. A ele serve-se o primeiro cafezinho todas as manhãs
ou toda vez que se côa um café novo.
Mas
quem foi São Benedito? De acordo com a Santoral Popular (Santo Nosso de Cada
dia - ed. Loyola 1991) ele nasceu em
1526 na aldeia de San Fratello Província de Messina na Sicilia, era filho de
pais descendentes de escravos, conseguiu sua liberdade graças ao professor
Manasséri, apesar de ter recebido excelente educação não era alfabetizado. Aos
vinte e um anos foi para o eremitério onde exercitava todas a suas virtudes e
adquiria novas a cada dia, operando diversos milagres. Mais tarde foi para um
dos rochedos de Palermo e em 1562 ingressou na ordem Franciscana no Convento
Santa Maria de Jesus. Foi cozinheiro por muitos anos e em 1578 foi nomeado
guardião do convento e mestre de noviços. Morreu em 1589 e seu corpo continua
incorrupto e exposto na igreja de seu convento em Palermo - Itália.
Seu culto introduzido no Brasil via Portugal e outros países teve
grande aceitação entre os escravos os quais dedicaram-lhe as coroas dos
Congados e Moçambiques, bem como inúmeros versos nos folguedos religiosos.
Mesmo
tendo o seu dia comemorativo em cinco de outubro, dado a sua origem africana
comemoram-no sempre a treze de maio, relacionando-o com a libertação dos
escravos. Mesmo não havendo grandes festividades em seu dia, uma coisa era
certa, São Benedito estava presente em todas as festas, afinal, sem sua vontade
os dias de festas não seriam ensolarados
e as noites não seriam tão estreladas. Viva São Benedito!
Valter
Cassalho
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