TEMPO DE FRITAR BOLINHOS
p/Valter Cassalho
As vezes em
coisas simples e atitudes modestas que passam desapercebidas em nossas vidas
estão grandes e importantes coisas que passamos a reconhecer somente depois de
muito tempo. E por falar em tempo, talvez seja esse o “x” da questão que me
leva a escrever tais linhas. Parece que hoje ninguém mais tem tempo, afirmam
que ele passa depressa demais ou que está mais curto ou mais rápido. Os
astrônomos afirmam que está tudo igual, então o problema está na percepção que
temos dele ou como com ele lidamos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgby8PV0-ypavxJ9Ao94w4d6l1DaP_k17nRraHVQuvOKkVGnM19k667a253ad_QU8hhhdtfMXRVnNgiSt5Sa_KYF9AIzRBchN0w1SW3qbqrm69_5KWHSmoXyOE9RUw4yNa0dPWbXz7df_Qr/s1600/VOV%5BO.jpg)
Como era bom
ver nossas avós, madrinhas, tias ou mães naqueles dias de chuva e nós
aborrecidos sem poder brincar (de verdade – nada virtual) com aquela cara de
“criança lombriguenta” a olhar pela janela (janela mesmo não windows tá!) e
para nos alegrar alguém tinha a grata idéia de fritar bolinhos !!!! Delicia,
todo mundo na cozinha, em torno da mesa, da pia ou do fogão, o quebrar dos ovos,
o trigo, o fermento, o mexe-mexe e todos esperando o momento delicioso dele
cair na fritura e ficar dourado, moreninho e depois coberto com açúcar e
canela. Mas a chatice era não poder comê-lo até que se fritasse o último, pois
se fossem pegos e comidos antes, ia minguando e não rendia. Mas tudo bem
tínhamos tempo, paciência e muita vontade de ver uma mesa arrumada, com café no
bule, leite na jarra, xícaras, copos sobre uma toalha multicolorida de plástico
oleado. Aquelas mulheres tinham tempo, conversavam sobre a família, contavam
seus causos e adoçavam a vida delas e as nossas, nada de conversa sobre médicos
e diabetes ou padrões de belezas impostos pela mídia. Ao invés disso trocavam
felizes receitas de comidas e bolos. Por
falar em bolos, hummmmm que delicia quando o café era com bolo, poderia ser de
fubá, trigo, banana ou de milho verde.
Talvez o mais gostoso após o encanto de ver a clara virar em neve e ser
mexida naquele tigelão de louça decorado com desenhos de rosas ou aquele branco
com listras azuis era poder pegá-lo e rapar gostoso a massa que ficou nas suas
bordas. Uma briga gostosa de colheres entre primos ou irmãos.
Mas voltando
aos bolinhos! Como era gostoso por numa tigelinha e brincar de ver que formato
tinham os ditos bolinhos pingados ou de chuva antes de devorá-los, assim como
fazíamos com as nuvens do céu, imaginando desenhos. Isso mesmo, tínhamos tempo
de olhar para o céu e ver as nuvens, ver bichinhos e outros desenhos mais.
Tínhamos tempo de ver a estrelas, porém sem apontá-las para não dar verrugas
nos dedos. Na minha época crianças tinham verrugas e acabávamos com elas
passando casca de laranja e pondo no formigueiro ou oferecendo na brincadeira
uma galinha com sete pintinhos a alguma pessoa.
Era tudo real, as pessoas e os amigos eram de verdade, podíamos
tocá-los, correr, suar, rir, chorar, tudo isso em conjunto sem ser nas telas
escrevendo “snif” ou “kkkkkkkkk” ou ainda colando desenhos para demonstrar
emoções.
Bolinhos??
Que delicia, com queijo ou com banana mais gostoso ainda. Tudo feito com
carinho e com tempo, coisas que estão ficando num passado, se perdendo no tempo
ou o tempo se perdendo nesta vida virtual que nos impõem o tal mundo
contemporâneo. Bem desligue este computador junte os seus amigos e convide para
fritar bolinhos e contar histórias, experimente e vai ver como isso é bom
demais. Reunir gente para passar o tempo, ser o dono dele e não escravo.
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