sábado, 30 de março de 2013



OVOS DE COELHOS
ASSIM NASCERAM OS COELHOS DA PÁSCOA

Quem nasceu primeiro - o ovo ou a galinha ? Pergunta indecifrável até nossos dias; mas para piorar, pergunto: Quem nasceu primeiro – o Ovo ou o Coelho???
Bem, esta história é longa e entra de toca em toca nos milênios obscuros do passado. A Igreja Cristã foi grande em seu poder persuasivo de marketing e para coibir as práticas pagãs, apagar o passado e acabar com o paganismo utilizou a técnica da sobreposição cultural. Assim, sobrepôs a data do nascimento de Cristo no período do nascimento do deus pagão Mitra e outras datas sobre as datas festivas pagãs, que acabaram fundindo-se em cuja mistura sobressaiu a roupagem da cristandade.
Bem, entendamos a Páscoa Cristã no período da primavera do hemisfério norte, calculada como o primeiro domingo, após a primeira lua cheia, após o dia 20 de março, data em que volta o sol em sua trajetória após o inverno, trazendo nova luz ao mundo.  Povos pagãos da Europa destinavam muitas festas nos chamados equinócios (época em que o Sol passa pelo equador, fazendo os dias iguais às noites em todo o mundo).  No final de março acontecia a festa a deusa da mitologia nórdica Eostre ou Ostera  deusa da fertilidade e do renascimento, relacionada a aurora.
O ecos das antigas tradições dizem que Eostre era afeiçoada por crianças e vivia rodeada por elas divertindo-as com sua presença e magias.  Certo dia, sentada com suas crianças uma ave sentou em suas mãos e a deusa transformou-a em uma LEBRE (não em coelho) e deu para as crianças brincarem. Porém depois de muitos dias as crianças notaram que a lebre vivia triste, saudosa de sua forma original, de seu canto e de vôo, pediram então para que Eostre voltasse a lebre em sua forma de pássaro. Eostre tentou de todas as formas e não conseguiu desfazer o encanto, por estarem no inverno ocasião em que seu poder diminuía. Assim, depois que passou o inverno e veio a Primavera e Eostre cheia de seu poder pode finalmente voltar a lebre na forma de pássaro.  O pássaro ficou feliz e botou vários ovos em agradecimento. Em celebração a sua liberdade as crianças pintaram os ovos e o pássaro novamente transformado em lebre e a pedido de Eostre saiu distribuindo os ovos lembrando que não se deve interferir no livre-arbítrio de ninguém. Para eternizar este ato, Eostre entalhou a figura de uma lebre na lua que pode ser vista até hoje. Nasceu deste acontecido o costume de presentearem-se com ovos pintados e relembrarem tal história.
Existem muitas variações desta história e vale lembrar também que ovos já eram pintados ou tingidos com folhas de cebolas e beterrabas e distribuídos na primavera no  Oriente e entre outros povos da antiguidade, com símbolo de nascimento e fertilidade. Muitos ovos após serem assimilados pela cultura cristã viraram obras de arte e jóias preciosas. O chocolate só apareceu nos fins do  século XVIII  e XIX chegando até  nossos dias com seu simbolismo e doce paladar.
Bem, este relato mítico  serve para mostrar tanto o ovo como um símbolo de aparente morte e cheio de vida por dentro e a  lebre como  representante da fertilidade está presente nos mais diversos povos e épocas, sendo que os símbolos adaptam-se de acordo com a necessidade do nosso imaginário ou  mística. Basta lembrar que alguns vêem nas manchas da lua um feto, outros o São Jorge e na época da bondosa Eoste viam a lebre dos ditos ovos que hoje são ovos da  páscoa cristã.
Portanto, mesmo que você compre COELHOS por LEBRES ou independente do que significam o ovo, a lebre e a páscoa para você, desejo uma FELIZ PÁSCOA, e que seus dias sejam repletos de fertilidades e renascimentos, doces como chocolates, fortes como os ovos e alegres como as lebres.

 Valter Cassalho
Comissão Paulista de Folclore

quinta-feira, 7 de março de 2013




Professora Bruna Caparica Filha



Quando nascem os lírios...
Viveu como um efêmero sorriso.
Murchou, como uma flor desabrochando,
Colibri, que deixa o ninho, quando,
Apenas lhe doirava a boca, um  riso!

Tinha, do lírio, a palidez na face,
Tinha na face, a palidez do lírio!

(Lírio I – prof. Sérgio Ribeiro cc.1930)



Em 15 de outubro de 1872 chegava em definitivo para residir no bairro do Curralinho do então município de Santo Antonio da Cachoeira, os recém casados Anselmo Caparica  de trinta e dois anos e  Bruna Figueiredo, de dezesseis anos,  filha de Luiz Antonio Figueiredo e Maria Escolástica e Ornellas.
O casal estabeleceu-se nas terras de Luiz Antonio Figueiredo, no inicio da expansão cafeeira, nascendo nestas terras os seguintes filhos:  Otilia, Gerôncia, Evilasio, Benedita, Bruna, Orestes, Maria, Antonia, Joaquim e Olga.
A menina Bruna nasceu em 1885 e recebeu em homenagem à mãe o nome de Bruna Caparica Filha, herdando a inteligência e vivacidade dos Caparica,  a audácia e fibra dos Figueiredo.  Passou parte da infância na fazenda e na vila de São João do Curralinho.
Ao concluir idade, foi estudar no Colégio de Nossa Senhora do Bom Conselho, no município de Taubaté,  onde permaneceu por nove anos, vindo somente nas férias para conviver com a família e sua terra natal.  Seu pai, fez questão que todos os filhos tivessem boa educação, instrução e principalmente conhecimentos sobre música e cada um tocava um ou mais instrumentos, Bruna era a pianista, chegando mesmo a dar aulas no Colégio onde estudava. Com certeza as reuniões familiares eram  muito animadas e alegres ao som de excelentes musicas interpretadas pelos artistas da família.
O ano de 1895 transcorreu em festas e conquistas locais, em maio a Câmara Municipal  dava parecer favorável  a elevação do distrito à condição de município de São João do Curralinho e em agosto o governador assinava a Lei para tal. Com seus dez anos de idade  deve ter visto a alegria do pai e de seu tio o Cel. João Ernesto Figueiredo a comemorarem as vitórias após tantas lutas. Era nas casas do Caparica e do Figueiredo, próximas à capela,  que se reuniam os políticos e o destino do futuro município era traçado.  Pelas suas opiniões em crônicas, fica evidente que Bruna era uma mulher à frente de seu tempo, assim como fora seu pai, o republicano histórico da região, com isso ficava claro que não era uma mulher destinada ao lar e aos afazeres domésticos. Com certeza deve ter ouvido muito das reuniões políticas de sua casa e mais tarde, quem sabe, até opinado nelas.
Mas nem tudo era festa nesta casa; em 28 outubro de 1896, Otilia Caparica de Almeida, esposa do intendente municipal Antonio Ferreira de Almeida, após horas de sofrimento de parto, viria a falecer de sincope cardíaca aos 21 anos de idade, deixando três pequenos filhos, Adilia, Antonio (Almeida Junior) e Sebastião, tendo este ultimo com poucas horas de vida, chocando todo o município, sendo sua morte sentida e comentada pelos jornais da época. Passado cinqüenta e dois dias o menino Sebastião também viria a falecer.






Quando os lírios florescem...

Sonhos que vêm dos céus, sonhos divinos,
Sopro dos deuses em vibrantes harpas;
Mensageiros dos anjos peregrinos,
Rolando, assim, por rígidas escarpas!

E sem ao menos proclamar um grito,
Poder, ainda, notar que se desvenda,
Um ponto luminoso no infinito!

(Sonhos – prof. Sérgio Ribeiro cc.1930)


Neste ínterim, entre a vida do colégio e as férias na pequenina cidade, com seus saraus e sonhos de adolescente,  cresceria a jovem e imponente  Bruna, a filha. O final do século traria um novo fantasma para a família, a jovem Gerôncia Caparica de 23 anos, viria a falecer de tuberculose em 14 de março de 1900, a doença que dizimava e iria dizimar muitos jovens por longos anos.
A festiva virada do século marcaria de esperanças a família; começavam a chegar os netos, a nova geração de um novo século. Bruna Caparica Filha, já considerada em idade de se casar pelos padrões da época, tornara-se a professora Bruna. Com seus dezesseis anos, demonstrava excelentes conhecimentos e dom para a educação, lia muito, escrevia bem, falava francês  e convivia com os intelectuais da época como seu cunhado Antonio Ferreira de Almeida, seu irmão Evilasio Caparica,  seu primo João Trindade e  o Prof. João Candelária Sobrinho. A professora Bruna Caparica auxiliava seu cunhado Antonio Ferreira de Almeida no Jornal “O Munícipe”, transcrevendo matérias e escrevendo crônicas para jornais do Curralinho, de Santo Antonio da Cachoeira, para outros do interior e  até mesmo para jornais da Capital de São Paulo e Rio de Janeiro.
Sua inclinação para a educação levaria a formar uma escola particular mista no ano de 1902, firmando-se como educadora. Foi a primeira mulher no município a exercer este cargo em caráter particular,  com a inovação de estudarem na mesma sala meninas e meninos. Neste período as escolas do Governo eram divididas  por gênero, a primeira cadeira do sexo masculino foi criada em 1833, a feminina em 1895, porém a mesma não foi ocupada por muitos anos, haja visto que a cadeira (do Governo Estadual) assumida por Eugenia Martinessi, ficou sem professora até 1907.  O comum era a contratação de professores particulares junto às fazendas, sendo toda preferência dada ao sexo masculino e  obviamente às famílias de posses; em alguns casos era concedida permissão para que filhos de colonos freqüentassem as aulas com os filhos do dono da fazenda.
Bruna Caparica Filha demonstrava intensa preocupação com a situação, defendendo a extensão do ensino as mulheres, haja visto que em sua escola de 1902,  entre seus mais de 30 alunos, havia a presença maciça de meninas em relação aos meninos. Entre seus alunos destacavam-se seus sobrinhos: a futura conceituada educadora Adilia Ferreira de Almeida e o ilustre Almeida Junior (autor de Lições de Medicina Legal e Professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo).
Imagino os comentários de alguns mais tradicionais da época e a luta que a professorinha teve que travar com os mesmos, porém, como diziam: “Só podia ser filha do Caparica!”. Esta jovem tal como o pai tinha idéias revolucionárias e  bem mais adiantadas do que a época.
Infelizmente, em 30 de junho de 1902, outra  morte abateria a família, desta vez, o ilustre chefe do clã, Anselmo Caparica,  com 62 anos de idade, vitima de gastrite. Novo luto, novas cerimônias pomposas e homenagens seguidas uma após a outra. Mesmo assim, a professora não se deixou abater e continuou seu árduo trabalho, a cada contratempo adquiria mais fibra e obstinação.
Em 09 de julho de 1903, nos manuscritos para o jornal consta o seguinte: “A câmara municipal decretou, já há mezes uma lei creando uma escola municipal do sexo feminino nesta villa, estando já nomeada para exercer o cargo a profª e intelligente jovem exmª  srta. BRUNA CAPARICA FILHA, que desde o dia 1º de julho acha-se em exercício com 25 alunas matriculadas. Foi este um dos melhores actos de nossa municipalidade, porquanto até esta data não se pode conseguir que a cadeira aqui existente e creada pelo governo fosse provida. Entretanto, mesmo para a escola municipal ultimamente creada, a Câmara necessita de auxílio que o governo dá anualmente  para escola desta categoria, afim de não se tornar oneroza para o cofre municipal. Se este auxílio, porém, não se conseguir  é provável que, a câmara revogue aquele acto tão benéfico”.  Portanto,  isso prova em definitivo que a PRIMEIRA PROFESSORA, a primeira mulher neste município a exercer o cargo educacional para o sexo feminino foi BRUNA CAPARICA FILHA, a qual já possuía desde o ano anterior uma escola particular mista. Graças a esta escola particular e ao seu trabalho, conseguiu a criação de uma escola pública municipal para as meninas.
A professora continuava seu árduo trabalho, educando os jovens, conscientizando os pais, divulgando seus pensamentos aos leitores. No dia 16 de dezembro de 1903, realizaram-se os primeiros exames da escola municipal feminina, sendo algumas alunas levadas a uma mesa examinadora, composta pelos influentes cidadãos: José Ramos Sampaio, Durval Martins, Evilasio Caparica, João Trindade e Octávio Campos, sob a presidência de José Candido de Campos, presidente da Câmara Municipal (maior autoridade municipal na época). Esta era a prova de fogo da professora; ver seu trabalho avaliado pela primeira vez perante a municipalidade. Imagino a agonia e tensão da professora nesse instante, bem como a satisfação a cada resposta das suas queridas alunas que obviamente não a decepcionaram no seu laborioso empenho. O resultado foi o seguinte:


Aprovadas: 1ª Turma.

1ª Classe
 Simplesmente: : Nancy Frederigue e Amalia Garcia e Julieta de Souza Bueno.
Plenamente:  Joanna Pinto de Oliveira e Julieta Fernandes. Distinção:  Leopoldina Alves Baptista.

2ª Classe
Simplesmente: : Benedicta Alagio (na foto a primeira a esquerda ao lado da profª)
Plenamente:  Maria Fernandes de Oliveira (dª cota) e Amélia Siqueira.

3ª Classe
Distinção:  Adilia Ferreira de Almeida e Antonia Caparica.

Após os exames e os cumprimentos pelo seu trabalho, a professora brindou a todos com a apresentação teatral das peças:
As comédias: “Vae-se o Gato e entendam-se os ratos” e “Os caprichos de Pedrinho”.
O drama: “Eduviges e Hermengarda.
O diálogo: Felicidade.


O cenário, pinturas e panos de boca foram magnificamente preparados por Augusto Sodre de Farias, Evilasio Caparica e João Trindade. Os artistas foram as alunas: Adilia Ferreira de Almeida, Lepoldina Alves Baptista, Francisca M. Siqueira, Antonia Caparica, Hortencia S. Bueno, Nancy Frederigue, Benedicta e Rosa Alagio (na foto a segunda a direita ao lado da professora), Amélia Siqueira e Julieta S. Bueno. Participaram ainda: Bruna Caparica Filha, Benedicta Caparica, Carmelina Ribas, Maria Caparica, Bertha Gomes e os menores Almeida Junior e Joaquim Caparica.
Não consta da lista acima os nomes dos reprovados, apenas uma ressalva de que alguns não foram levados a exame dado ao curto período de aula e a pouca idade dos mesmos. Em seguida houve distribuição de doces, apresentação de uma orquestra e  canto do Hino Acadêmico, o que mereceu muitos aplausos.






Quando morrem os lírios...

Ouvia-se, do bronze, o som plangente...
E a esperança, que o lar paterno ilude,
Morreu! Hoje, nas notas do alaúde.
Venho chorar-te, à lápide silente.

Quantas pálpebras vi, tão lacrimosas,
No dia em que partiste, ó pomba mansa,
Para as regiões etéreas, luminosas!

(Lírio II – prof. Sérgio Ribeiro cc.1930)

Apesar de toda essa vivacidade e atividade, a saúde da professora era frágil. Desde 1907 Bruna não parecia ser a mesma, gripes constantes, febres e  tosses; o fantasma que atemorizava muitas pessoas da época e também sua família fazia-se presente; logo perceberam que os sintomas eram os mesmos de sua falecida irmã Gerôncia. A tuberculose, a doença do século, fazia-se presente em mais uma jovem. Medicamentos, tratamentos, orações, viagens, tudo em vão, a cada dia a professora definhava, afastada das aulas e dos jornais, passava mais tempo na cama do que em suas atividades. A segunda metade de 1908 foi um triste momento para a família, sem esperanças de cura, necessitando cuidados redobrados, Bruna agonizava, sua mãe dona Bruna Figueiredo, mais uma vez se enchia de forças para enfrentar tristes momentos.
No dia 13 de dezembro prevendo o fim próximo, pediu seu pequeno diário, o qual havia comprado na estação de trem em Bragança em uma de suas viagens, nele escreveu suas ultima palavras: “É  chegado meu último momento. Aprouve ao céu privar-me da grande consolação deste lar. Meu derradeiro suspiro na terra que tanto amei. A minha morte não é uma fatalidade ou uma desventura. Não quero que minha familia se entregue ao desalento. É preciso...”(aqui ela exausta interrompe seus escritos).  Horas depois, já na madrugada do dia 14, por volta da uma e meia, após longo e cruel sofrimento (segundo o jornal Cachoeirense de 1908), Bruna Caparica Filha dava o seu último suspiro, enlutando todo o município. Imediatamente a noticia foi propagada, a casa amanheceu rodeada de amigos, principalmente muitos jovens. Nem o temor da terrível doença impediu que a população comparecesse em massa para render suas homenagens. Após o velório, o corpo foi carregado por moças vestidas de branco e empunhando coroas de flores naturais. O longo cortejo era composto por políticos, familiares, representantes de jornais, amigos, conhecidos e pranteado pelos seus alunos. No cemitério, ao baixar o corpo, foi proferido pelo professor normalista, Jayme  Candelaria, o seguinte discurso:
“A jovem que penetrou os humbrais da eternidade passou por essas phases, teve momentos de suprema ventura, que se esvaeceram logo ao bafejo de uma realidade pungente. Também ella errou um pouco no oceano da vida, e ahi naufragou, de nada lhe valendo as angustias e os esforços dos que lhe assistiram a ruína, estupefactos diante da fatalidade.
O que se vai encerrar nessa tumba é um legado precioso, despojos brilhantes de um ser que se extingue em pleno alvorecer, cujas últimas illusões, que decerto foram tantas, ainda palpitam lá no escrinio do coração de uma donzella. Nos vestíbulos da existência, seu espirito galgava escadarias de alabastro e ia phantasiar nas câmaras de luxo, ao balanço das redes que só a mocidade é capaz de filigranar. Foi um sonho, não importa. Morreu sonhando e as imagens que delineou vão com ella para o sepulcro. Sofreu, por que em dado momento a fatalidade substituiu-lhe pelo fel da desventura a ambrosia ideal que verte do nectário de nossas mais íntimas aspirações – esta sede de viver que lhe apertava a mais e mais. Depois um  último olhar ao passado feliz, aos entes caros, um passeio imaginário por umas campinas já percorridas, uma visita à ermida onde se entoavam hynnos ao Creador, um adeus ao tecto paterno  - descer as pálpebras sobre essa suprema coordenação de imagens adoradas e dormir, dormir...
E a isso vem ajuntar-se agora gratas saudades dos curralinhenses, porque essa moça, a Bruninha, foi um complexo de virtudes que é hoje coisa rara. A bondade natural de seu coração esculpida por uma educação exemplar, temperamento dócil e acrisolada religião que lhe dava à alma brandos reflexos, foram os característicos de sua estatura moral.
Curralinho deve curvar-se reverente diante da ilustre filha que tanto o amou, a cuja prosperidade não regateou o seu ardor e o seu talento adamantino.  A ella pois, as nossas saudades”.

Assim encerrou-se a vida de uma ilustre joanopolense, que viveu em nossas paragens, virando o novo século, lutou e realizou uma grande obra em nosso município. Infelizmente a brevidade de sua vida impediu-a de novas e importantes empreitadas. Todavia, esta brevidade foi compensada pela intensidade de seu viver.  Sua audácia e firmeza nos dão um excelente exemplo de dedicação e busca de ideais. Uma mulher do inicio do século, numa sociedade paternalista e machista, consegue inovar e concretizar seus objetivos. Joanópolis deveria render homenagens a esta sua estimada e ilustre filha, que descansa serenamente em nosso solo. Somente o saber de sua existência já é para nós uma grande lição aprendia nas páginas eternas do viver humano.

Valter Cassalho – fevereiro de 1999.


Lírio II

Morreste. E, quando, à beira do ataúde,
Fui te beijar, como era eu inocente!
Na palidez, sorrias, docemente,
Repleta de pureza e de virtude!

Ouvia-se, do bronze, o som plangente...
E a esperança, que o lar paterno ilude,
Morreu! Hoje, nas notas do alaúde.
Venho chorar-te, à lápide silente.

Ó, não posso esquecer! Era eu tão criança,
E ornei, o teu caixão, de lírios e rosas,
Cujo quadro conservo na lembrança.

Quantas pálpebras vi, tão lacrimosas,
No dia em que partiste, ó pomba mansa,
Para as regiões etéreas, luminosas!

(Adeus Mocidade... Sérgio Ribeiro
 1892/1955, Ed.Efusão 1989)
BIBLIOGRAFIA
- Almeida, Antonio Ferreira de, Descripção e Estado Actual do Municipio
S.João do Curralinho - 1902.
- Almeida, Antonio Ferreira de, História do Município e Comarca de
Piracaia - 1912.
- Harris, Terry G. Ecos Distantes – primórdios e evolução histórica de Joanópolis
Edicon – 1996.
- Ribeiro, Sérgio – Adeus Mocidade – Ed. Efusão (1989)
- Jornal “O Curralinhense” nº 225 – ano VIII 1902.
- Jornal “O Cachoeirense” nº 215 – ano V 1908
- Manuscritos de Antonio Ferreira de Almeida e Bruna Caparica Filha – 1896 a 1912 – doados por
Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima, sobrinha de Bruna Caparica Filha.
- Acervo fotográfico – Valter Cassalho.
- Diário Particular de Bruna Caparica Filha (acervo Elisa Almeida) - ultimas palavras acrescida neste histórico em fevereiro/2001.