terça-feira, 31 de março de 2015


UMA IGREJA E SEUS SÍMBOLOS 

A IGREJA é repleta de símbolos, o que permite que sua linguagem seja universal atualizando suas concepções na dinâmica do tempo.  A importância desta simbologia e de suas tradições a mantém coesa, firme e universal a todo instante.  Os símbolos assim como a música e a ritualística toca fundo nossos corações, nossa alma e nos envolve de forma objetiva e subjetiva, transcendendo nossa temporalidade e razão, ela nos envolve nas questões de fé.
Essa transcendência, esse encantamento, esse envolvimento só é possível através de nossa interação com tais símbolos litúrgicos que tocam nossa alma e fortalece nossa fé, nosso contato com o divino.
A Igreja há milênios percebeu a universalidade e comunicação da ritualística com a alma humana e até hoje a música sacra e seus requintes, as pinturas, as imagens, os templos,  enfim a arte sacra em si tem sua função. E esta função ultrapassa o contemplativo, ultrapassa a beleza e a estética, ela transcende tudo isso, ela nos ilumina, nos fala, nos conduz e norteia. Por isso temos os santos, não para terem suas imagens adoradas, mas para nossa contemplação e lembranças de seus feitos e de seus exemplos a serem seguidos.
Quando olhamos para a Madre Dolorosa não estamos a adorar uma imagem, mas sim a contemplar seus olhos  lagrimejantes e o punhal que traspassa seu imaculado coração;  parece que neste instante aquela Pietá consola nossas dores e nos inspira a entender e aceitar nossos sofrimentos.  Quando os artistas do movimento barroco deram a teatralidade a seus templos e a vívida expressão em suas imagens, tornou-se impossível  não nos comover com o sofrimento expresso das imagens da Semana Santa !  São esses símbolos que nos leva a reflexão sobre o sofrimento de Jesus e faz depositarmos nossas dores e aflições naquele momento. Quando repicam os sinos, acende-se o círio pascal e aleluias sobem aos ares, novas esperanças preenchem nossas almas e o júbilo toma conta do nosso ser e renova nossas esperanças no além morte, na glorificação dos justos e a ressurreição. Quando felizes tocam os sinos de Belém e as músicas alegres enchem a igreja na missa do Galo renovamos e fazemos novas alianças num ano vindouro.  Tudo isso é tocado não pela razão ou ciência racional humana, mas pelo subjetivo, pelo encanto, pela mística, pela simbologia que vibra nosso interior e alimenta a centelha divina presente em nós humanos e filhos de um Deus Único.
Essa é a grande sabedoria da Igreja, a imponência de seus templos, que não foram construídos para ostentar, mas para tocar, para falar. Seus santos falam, suas pinturas falam, seus sinos falam, sua música transmite, a Igreja se comunica e faz a ponte entre o Céu e a Terra. A Igreja, mais que um templo é um livro aos homens, e felizes aqueles que têm esse livro sagrado bem ilustrado e que se pronuncia com sua arquitetura, com suas tradições, com seus santos  e com sua liturgia;  a igreja vibra, o templo se comunica a nós. É por isso que os templos foram feitos, e para isso que foram construídos com requintes, é por isso que lá estão os santos, lá está o Corpo de Deus, o nascimento, a morte e a ressurreição.  Sejam suas cores, suas caveiras, seus santos, seus sinos, suas vestes, suas cruzes, seu chão quadriculado,  tudo tem um porquê e percorrer e conhecer esses porquês é  iluminar a alma e entender uma Igreja Viva de um Deus Vivo.
Esses santos, essas manifestações, essa ritualística tem um mesmo denominador comum, existem para o Louvor Supremo de Deus, os santos estão lá por Deus, pela abnegação a Jesus, e exemplificam como se portar na fé cristã, eles indicam o caminho.
Assim nos ensina o grande apóstolo em Coríntios 1 – cap. 13- Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
Se tudo isso, toda simbologia, toda pregação não houver amor de nada adianta, e é esse amor que movimenta a igreja, e a procuramos por esse amor puro e purificante, o consolo da nossa alma, as respostas para nossas dúvidas. É esse amor que faz nossas interpretações simbólicas e são esses símbolos que despertam e vibram esse amor, numa perfeita simbiose de fé.
Por isso é que Verônica segue sua via crucis, é por isso que Verônica tem atravessado séculos com seu cântico, tocando nossa alma, nos chamando a reflexão da Semana Santa,  não apenas pelo sofrimento imposto a Jesus e a amargura de sua chorosa Mãe, mas pela identificação nossa com esse momento, nossa identificação de nossas dores com aquele momento revivido, com o luto expresso de Verônica e suas Marias Beus, o findar da Sexta Feira da Paixão e a certeza do nascer do outro dia e a esperança na ressureição e do novo sol em nossas vidas.
O símbolo forte que da quaresma e o sentimento que exerce em todos faz esse período especial, tempo de  meditação, de recolhimento, de reflexão, que inicia-se pelas cinzas a lembrar nossa brevidade na terra e a efemeridade das coisas, ao Domingo de Lázaro com suas chagas ou a Lázaro o ressuscitado vencendo a morte; as nossas andanças pela via sacra, pelas procissões, pelos confessionários, pelas glória do Domingo de Ramos, pela passagem da morte e pela ressurreição; faz deste período um dos mais belos da Igreja. É pela Páscoa do Senhor que se define todo o calendário litúrgico da Igreja.
Ao entrar no templo, perceba que ele é um livro e tem uma mensagem a passar, as imagens estáticas que ali estão tem uma mensagem para você; conheça a história deles e terá um caminho a seguir; entenda a liturgia e os símbolos que vão desde as vestes sacerdotais até as grafias pelos altares e entenderá que tudo tem um motivo e a origem desse motivo é Deus e sua infinita manifestação a desdobrar pelo Universo.