terça-feira, 7 de março de 2017

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

HOMENAGEM

Professora Adilia Ferreira de Almeida Pereira



No dia da Anunciação do Senhor, 25 de março do ano de 1891 no recém criado distrito de São João do Curralinho, nascia Adília Ferreira de Almeida, filha do nosso historiador Antonio Ferreira de Almeida e Otília Caparica de Almeida.  No ano seguinte nascia seu irmão Antonio Ferreira de Almeida Júnior (futuro Professor de Medicina Legal  da USP). A menina Adília crescia tranqüila  numa terra amistosa onde sua família (Caparica, Figueiredo e Almeida) politicamente lutava para emancipação e crescimento do distrito.  Em 1895 Curralinho torna-se município e seu pai no ano seguinte, em 21 de agosto toma posse como Intendente Municipal, sendo uma das maiores autoridades municipais. Sua mãe estava lá, com o terceiro filho no ventre, com ela e o irmão no colo assistindo orgulhosa o juramento e oratória do ilustre Antonio Almeida. Foi um belo mês de agosto que apesar de sua pouca idade, dele deve ter ouvido inúmeras histórias, pois consistia no marco primordial da futura Joanópolis. Infelizmente, dois meses depois, sua mãe, com apenas vinte e um anos,  agonizava num difícil parto, dando a luz ao menino Sebastião, mas horas depois nossa primeira dama  veio a falecer, causando  grande comoção no município e cidades vizinhas. O menino Sebastião viria a falecer quase dois meses depois, no dia 21 de dezembro. Naquele ano o natal não foi um dia festivo.

O tempo transcorreu rápido e logo aquela menina de olhar meigo e profundo, que sempre estava na casa dos avós (Anselmo Caparica e dona Bruna Figueiredo) cercada dos inúmeros tios, tornou-se uma menina esperta e dinâmica, sendo educada na primeira escola mista do município, sob o comando de sua tia e professora dona Bruna Caparica Filha.  Com certeza, o zelo, conhecimento e dedicação da professora Bruna Caparica deve ter exercido grande influência sob seu caráter e determinação na profissão que escolheria mais tarde.
Concluindo os estudos em sua terra natal, foi para São Paulo, ficando hospedada no Colégio Santana, fazendo seus estudos  na Escola Normal Secundária de São Paulo, formando-se professora pela centenária Instituição Caetano de Campos, no dia 01 de dezembro de 1914, no mesmo ano em que era fundado o Grupo Escolar Curralinhense em terras doadas pelo seu tio-avô o Cel. João Ernesto Figueiredo.
No ano seguinte, volta para Joanópolis e orgulhosamente torna-se a primeira joanopolense a assumir a primeira cadeira de referida escola.
Exímia  e dedicada educadora, sempre fez questão de lecionar para o primeiro ano, pois a sua paixão era alfabetizar, ensinar as primeiras letras, alicerçar muito bem a nova jornada estudantil, sua dedicação fazia com que as vagas para suas classes fossem  disputadas. Sua competência e organização era tanta, que na falta dos diretores era ela quem comandava o grupo escolar, bem como as crianças que tinham dificuldades em aprender passavam  diretamente para sua classe.  Ainda hoje, ex-alunos, como Dirceu José Nogueira, João Toledano Sanches e outros,  falam do carinho e da dedicação de Dª Adília, a primeira professora.
Além de grande educadora, era uma excelente pianista e convidada de honra do Clube Curralinhense, realizava ainda em sua casa animados saraus, sempre com a presença marcante das amigas Maria Zenaide, Wanda Ribas, Aurélia Alágio e Alda Frederigue. Ficou ainda, por muitos anos com o honroso cargo de organista principal da igreja matriz. Dado ainda a sua fineza e espirito comunicativo sua casa passou a ser um ponto de referência para se hospedarem autoridades que  para cá se dirigiam.
Neste período nossa professora enamorou-se pelo coletor de rendas João Pereira (nascido em Espirito Santo do Pinhal em 13-5-1888), cujas belas e requintadas núpcias realizaram-se no ano de 1917.
Patriota e paulista convicta, ela e o marido apaixonaram-se pela causa de 32, chegando o esposo a doar  as alianças do casamento e ela o colar de ouro de seu noivado e como poetiza que era, ao entregar a corrente escreveu os seguintes versos: Vai corrente querida, presente de noivado, vai defender a causa, do meu querido Estado.  Sendo que este verso chegou a ser publicado pelo jornal  de São Paulo na época.
Sua grandeza e dinamismo, levou-a a assumir a presidência da Santa Casa de Misericórdia num momento em que esta instituição passava por grandes dificuldades, ela juntamente com a diretoria formada por Maria de Sousa Ribas, Alzira Telles, Maria Jimenes, Alice Valle Bueno, Joana Amorim e dr. Felicio Nogueira,  conseguiram estabilizar a situação e trazer melhorias para a sociedade e os enfermos que lá estavam.
Em 1937, seu esposo foi transferido para São Paulo para exercer cargo na Secretaria da Fazenda, sendo assim, Adilia pediu remoção para aquela cidade, deixando sua querida terra natal, a qual lhe preparou inúmeras homenagens  e festas de despedida.
Em São Paulo, lecionou em diversas escolas até se aposentar em 1945. Por ocasião de suas visitas a Joanópolis, aconteciam grandes reuniões e todos vinham dar um abraço na professora Adília, recebeu muitas homenagens em vida, principalmente em 1944 quando a Biblioteca Infantil e Pedagógica  de sua Primeira Escola  (Cel. João Ernesto Figueiredo) recebeu o seu nome,  a ocasião foi muito festejada com a presença de diversas autoridades e ex-alunos. Na ocasião o Grupo Escolar foi enfeitado com festões de flores naturais, celebrou-se uma missa de ação de graças as 07:00h, havendo até mesmo um desfile cívico pela cidade em sua homenagem, as 15:30h aconteceu a solenidade de inauguração, ocasião em que declamaram lindas poesias e o coral cantou belos hinos, recebeu em seguida um ramalhete de camélias brancas e uma jóia ofertada por seus ex-alunos. Em 1948  novas homenagens, desta vez por ocasião do dia do Professor, quando então foi Presidente de Honra de ditas comemorações, vinda especialmente de São Paulo para tal fim.
Dona Adilia, faleceu em 26 de fevereiro de 1978, em São Paulo  onde foi sepultada, deixou três filhos, Maria do Rosário, Elisa e Paulo.
Fica aqui nossa homenagem a esta mulher e grande educadora que todos lembram carinhosamente, Dona Adília foi mais uma joanopolense que teve um papel relevante em nossa sociedade e no dia Internacional da Mulher, nada mais justo do que homenagear uma educadora deste nível e de tão nobre personalidade.
(Valter Cassalho – 08-03-2000)

(...) A todo instante a educadora se impunha à admiração e ao carinho de seus alunos. Teve sua vida a significação de um livro em que cada página encerra uma lição, lição de bondade e de amor. Era de vê-la, todos os dias, na grandeza de sua modéstia, a dar o pão das primeiras letras às nossas crianças, paciente, cheia de abnegação, destacava-se Dª Adília figura de relevo, tanto pelo coração quanto pela inteligência.  Lembra-la, nos dias de hoje, para traçar-lhe o perfil, evocando-a nos seus exemplos e nas constantes manifestações de seu trabalho, será recordar uma época em que a instrução tinha seriedade e as escolas, em todos os seus graus, não se faziam senão fonte permanente de cultura. Tudo mudou, não raro esquecido pelos industriais de política, aí está, porém, o professor, lembrado, respeitosamente, pelos que ainda crêem na subsistência da família e da sociedade.
  (Comentários do saudoso vereador joanopolense
José Fernandes Amorim, plenário da Câmara/janeiro de 1980).