quarta-feira, 30 de maio de 2018







CAIAPÓS
Para sarar quem está doente e acordar quem está dormindo

Somos todos de baitará/A raça de tupi/Somos marão de quá/Do chefe Caiubi. –Somu tudo inadara/da raça de tupi/Somu barão de guara/Do chefe Itajubi.

A frase e os versos acima pertencem ao caiapó de Piracaia gravados em 1945 e 1955 respectivamente e incluídos num livro sobre Danças Dramáticas do Brasil na década de 60. Os caiapós APRESENTAM-SE NAS FESTIVIDADES DE JUNHO EM NOSSA REGIÃO, NO CHAMADO CICLO JUNINO – FESTAS DE SANTO ANTONIO, SÃO JOÃO E SÃO PEDRO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Mas, o que é o Caiapó? Quem são ou foram esses personagens que se vestem de penas ou palhas, que tocam buzinas de chifres pelo meio das ruas em dias de festas?
O índio sempre exerceu um fascínio no homem branco. Desde os primeiros contatos a literatura e a pintura tem exagerado e fantasiado sobre este povo dos trópicos, muitas vezes mostrando-os como ferozes canibais, outras  como dóceis, ingênuos, belos e apaixonados seres. Nossa cultura esta recheada de nomes, comidas e costumes indígenas. Os desfiles carnavalescos trazem sempre estes personagens à tona, porém pecam violentamente, utilizando cocares e adornos típicos de índios norte-americanos (mais uma gafe da mídia enlatada). 
No nordeste brasileiro a imitação dos índios é constante através dos Caboclinhos, dança dramática em que encenam uma luta de tribos inimigas, consistindo em  reminiscências dos antigos desfiles indígenas com seus instrumentos de sopro. Em Goiás acontece dança semelhante com o nome de Dança dos Tapuias.  Em diversos Estados, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, aparecem os Caiapós, que é um bailado  popular de influência indígena com variações de acordo com a localidade.
Este bailado já era mencionado em São Paulo em 1793 e 1794 pelos festejos do nascimento da princesa da Beira, herdeira do Trono de Portugal. Nestas citações do século XVIII relata-se o uso de buzinas, vestimentas de penas de peru e palhas.  Este folguedo seria uma imitação dos índios caiapós do sul, que dominavam os sertões na época dos bandeirantes, suas tribos situavam-se entre as cabeceiras do Araguaia e a bacia superior do rio Paraná. Os caiapós do norte vivem até hoje na região entre o Araguaia e o Xingu no norte do rio Topirapé.  Os primeiros desbravadores  (e escravizadores de índios)  encantaram-se com os cânticos e danças dos caiapós do sul, a tal ponto que a  encenavam na vila de Piratininga e localidades adjacentes.
 Existem algumas  diferenças quanto a encenação de uma para outra localidade, em algumas  existem um canto em tupi, em outras em português e em outras não há mais canto ou diálogo. Uma grande parte dos caiapós apresentam-se  com uma ou duas meninas chamadas de bugrinhas, cunhatãs ou cunhãs, as quais são raptadas por um homem branco e quando encontradas é realizada a dança comemorativa. Em nossa região, a encenação se dá em torno da doença (e  morte) do curumi (chamado de macuru, bacuru ou bucuru). Os caiapós chegam alegres e festivos, após a doença e  morte de  Macuru, entristecem-se, deitam no chão e lamentam o acontecido. Em seguida o pajé faz um ritual mágico, com muitos gestos e pólvora, que após acesa traz à vida o pequeno Macuru, todos levantam-se e  comemoram dançando o resultado positivo da pajelança.
Em alguns casos a figura de cacique-pajé (Tuxaua-pajé) é divida em dois personagens, o cacique que comanda o grupo, pai de Macuru e o altivo e orgulhoso pajé que faz a cura (caso de Joanópolis). Em outros o cacique possui a dupla função de líder e pajé, sendo o Macuru  filho de uma das mulheres da tribo (exemplo Piracaia). Neste último, há algumas décadas, como as mulheres não participavam da dança  um dos elementos vestia-se como mulher e mãe do referido curumi.
Os caiapós fazem-se acompanhar de variados e variantes instrumentos, caixas-de-guerra, tabuinhas, reco-reco, cuíca (puita), tambu, pandeiro e aricongo, em alguns casos queixadas de vacas e burros, sendo constante a presença da buzina feita de chifres. Trazem lanças, arcos, flechas e outros utensílios enfeitados.
Desta forma, este folguedo é uma lembrança encenada  a céu aberto sobre os maravilhosos rituais  de pajelança de nossos ancestrais, não apenas uma alusão aos caiapós do sul, mas também, a toda  nação indígena, inclusive aquelas que residiram nestas localidades. COMUM NAS FESTIVIDADES JUNINAS.
 Que estes rituais, apesar de simbólicos, exorcizem nossas cidades e tragam  fertilidade, cura e energias positivas para todos nós. 
Valter Cassalho