sexta-feira, 2 de maio de 2014



A FESTA DE SANTA CRUZ – 03 de maio


Há pouco tempo o mês de maio era considerado um mês especial, era o mês das noivas, das flores das laranjeiras, das festas de casamentos e em especial (até hoje) o mês de Maria. Dentre estas festividades, no mês de céu azul intenso e precursor do inverno, realizavam-se em quase todas as capelas, a Festa de Santa  Cruz.  Dias antes, preparavam-se arcos com taquara, flores naturais e de papel, limpavam as capelas e adornavam-nas caprichosamente para que no dia 03 de maio, realizassem terços, rezas e preces.  Reunia-se o bairro e após a reza partiam para um café com pão, leilão, rojões, comentários e cantorias. As cruzes ficavam recobertas de pequenos enfeites de papel e muitas das vezes eram coroadas com as mais diversas flores e cores.
Nestes locais eram depositadas imagens de santos quebrados, pois não era bom joga-las no lixo ou na água, o  lugar mais apropriado era a Santa Cruz; daí vemos muitas cheias de santos velhos e quebrados até hoje. Neste local também se deixavam esmolas para as almas, principalmente moedas e dinheiro miúdo, nascendo daí a expressão quando estamos com dinheiro amassado ou muito trocado, dizerem dinheiro de santa cruz ou assaltou a santa cruz.
Além de funcionarem como um marco de  referencia de divisas de propriedades, posse e  jurisdição, as mesmas eram utilizadas para se encomendarem as almas na época dos Cânticos de Alerta (Quaresma), para abençoar locais onde ocorreram mortes violentas, dando maior sossego as almas e impedindo que assombrassem os locais.
Desde a década de 70, estes costumes vem desaparecendo pouco a pouco. Um dos vários motivos, deu-se através da modificação do Calendário da Igreja Universal,  que suprimiu o dia 03 de maio em favor do dia 14 de setembro, ou seja, o real dia da Exaltação de Santa Cruz.
Mas, por que o três de maio? A história conta que: Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, encontrou a verdadeira cruz de Cristo em Jerusalém e a apresentou (exaltou) aos fiéis em 14 de setembro do ano 335.  No entanto, dado as guerras com os Persas, a Verdadeira Cruz acabou sendo roubada e desapareceu. Somente no reinado do Imperador Heráclito, foi resgatada no ano de 630 e segundo as tradições o próprio Imperador fez questão de levá-la nos ombros desde Tiberíades até Jerusalém, onde foi entregue ao Patriarca Zacarias no dia 03 de maio; nascendo daí grandes festividades pela data.
Com a vinda dos portugueses e a evangelização por parte dos jesuítas, a cruz foi imposta aos índios e arraigou-se por entre os mestiços que mais tarde comporiam os sertões,  aldeias e arraiais. Foram estes que tomaram gosto pelo culto a Santa Curuçá (de acordo com os tupis), ou Santa Curuzu (dos guaranis), sendo comemorada a 03 de maio, com grandes festividades e cantorias, como até hoje se fazem na Aldeia de Carapicuiba.
No Brasil, a Terra do Cruzeiro do Sul, chamado no inicio de Vera Cruz e Santa Cruz, teve estas festividades muito expressivas dentro de sua formação cultural. Joanópolis, teve seu inicio marcado por uma Santa Cruz, contígua a casa de Domingos Fernandes de Almeida (1878), onde realizou-se a primeira festa de São João. No início do século o da Cachoeira dos Pretos, tinha o nome de Santa Cruz do Salto e a capela dentro cemitério era dedicada a Santa Cruz (1893),  sendo substituída somente com a reforma ocorrida em meados  da década  de 50. No entanto, existe do lado de fora do mesmo, junto a antiga estrada que dava acesso a Piracaia, uma capela dedicada a Santa Cruz, que foi reconstruída  por Oscar Bueno de Camargo por volta da década de 60, onde ocorriam grandes festividades em maio. Quando construíram o Largo da Cadeia e  Paço Municipal, erigiu-se um belo Cruzeiro, que infelizmente foi demolido (1979) e nunca mais reconstruído. Por toda a zona rural, ainda espalham-se diversas capelas dedicadas a Santa Cruz  e dezenas de cruzeiros em locais onde ocorreram mortes violentas.

Na última visita do Papa ao Brasil, o presidente de Honra da Comissão Paulista de Folclore, o jornalista Hélio Damante, enviou uma carta pedindo ao santo padre, que se restabelecesse a festa litúrgica da Santa Cruz  em 03 de maio. Enquanto isso não ocorre, deixamos a festa a quem ela pertence, ou seja, ao povo, que olhará saudoso para o alto de qualquer igreja e verá no resplandecente céu uma imponente cruz e se mesmo assim não vislumbrar a cruz dos homens, com certeza, a noite, lá no céu estrelado de maio, verá  o Cruzeiro do Sul, derramando bênçãos eternas sobre o Brasil, a terra de Santa Cruz.

Prof. Valter Cassalho
Comissão Paulista de Folclore