quinta-feira, 30 de agosto de 2012



TEMPO DE FRITAR BOLINHOS

p/Valter Cassalho

As vezes em coisas simples e atitudes modestas que passam desapercebidas em nossas vidas estão grandes e importantes coisas que passamos a reconhecer somente depois de muito tempo. E por falar em tempo, talvez seja esse o “x” da questão que me leva a escrever tais linhas. Parece que hoje ninguém mais tem tempo, afirmam que ele passa depressa demais ou que está mais curto ou mais rápido. Os astrônomos afirmam que está tudo igual, então o problema está na percepção que temos dele ou como com ele lidamos.
Tudo virou um corre-corre, tudo tem que estar pronto ou semi-pronto, do congelador ao micro ondas e deste para uma prato e para o quarto.  Ninguém mais usa a sala de jantar, convivem pouco na cozinha  e sala de visitas, nem pensar.  O contato limita-se a jogos, amigos e conversas, porém tudo virtual, sem toque, sem cheiro e sem sabor.
Como era bom ver nossas avós, madrinhas, tias ou mães naqueles dias de chuva e nós aborrecidos sem poder brincar (de verdade – nada virtual) com aquela cara de “criança lombriguenta” a olhar pela janela (janela mesmo não windows tá!) e para nos alegrar alguém tinha a grata idéia de fritar bolinhos !!!! Delicia, todo mundo na cozinha, em torno da mesa, da pia ou do fogão, o quebrar dos ovos, o trigo, o fermento, o mexe-mexe e todos esperando o momento delicioso dele cair na fritura e ficar dourado, moreninho e depois coberto com açúcar e canela. Mas a chatice era não poder comê-lo até que se fritasse o último, pois se fossem pegos e comidos antes, ia minguando e não rendia. Mas tudo bem tínhamos tempo, paciência e muita vontade de ver uma mesa arrumada, com café no bule, leite na jarra, xícaras, copos sobre uma toalha multicolorida de plástico oleado. Aquelas mulheres tinham tempo, conversavam sobre a família, contavam seus causos e adoçavam a vida delas e as nossas, nada de conversa sobre médicos e diabetes ou padrões de belezas impostos pela mídia. Ao invés disso trocavam felizes receitas de comidas e bolos.  Por falar em bolos, hummmmm que delicia quando o café era com bolo, poderia ser de fubá, trigo, banana ou de milho verde.  Talvez o mais gostoso após o encanto de ver a clara virar em neve e ser mexida naquele tigelão de louça decorado com desenhos de rosas ou aquele branco com listras azuis era poder pegá-lo e rapar gostoso a massa que ficou nas suas bordas. Uma briga gostosa de colheres entre primos ou irmãos. 
O cheiro de bolo crescendo e o coador perfumando com café a cozinha, e as mulheres lá tagarelando, passando a vida da família e dos outros a limpo, mas também contando histórias e falando de suas experiências e se fosse noite ou dia de chuva fina não faltava um bom causo de assombração, que a gente ouvia gostoso no colo generoso de alguém, mais gostoso se fosse no de nossa mãe ou de nossas avós. 
Mas voltando aos bolinhos! Como era gostoso por numa tigelinha e brincar de ver que formato tinham os ditos bolinhos pingados ou de chuva antes de devorá-los, assim como fazíamos com as nuvens do céu, imaginando desenhos. Isso mesmo, tínhamos tempo de olhar para o céu e ver as nuvens, ver bichinhos e outros desenhos mais. Tínhamos tempo de ver a estrelas, porém sem apontá-las para não dar verrugas nos dedos. Na minha época crianças tinham verrugas e acabávamos com elas passando casca de laranja e pondo no formigueiro ou oferecendo na brincadeira uma galinha com sete pintinhos a alguma pessoa.  Era tudo real, as pessoas e os amigos eram de verdade, podíamos tocá-los, correr, suar, rir, chorar, tudo isso em conjunto sem ser nas telas escrevendo “snif” ou “kkkkkkkkk” ou ainda colando desenhos para demonstrar emoções.
Bolinhos?? Que delicia, com queijo ou com banana mais gostoso ainda. Tudo feito com carinho e com tempo, coisas que estão ficando num passado, se perdendo no tempo ou o tempo se perdendo nesta vida virtual que nos impõem o tal mundo contemporâneo. Bem desligue este computador junte os seus amigos e convide para fritar bolinhos e contar histórias, experimente e vai ver como isso é bom demais. Reunir gente para passar o tempo, ser o dono dele e não escravo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012


ZÉ MIJÃO O PRIMEIRO HERÓI JOANOPOLENSE
 Imaginem a seguinte situação: Um bairrinho rural distante de tudo, no meio do mato, cortado por um rio e um povo que desde 1830 começa a chegar formando uma casa aqui outra acolá, depois por volta de 1870 começa a aumentar a fluxo de pessoas derrubando matas e tentando arriscar com plantações de café. Piracaia antiga Santo Antonio da Cachoeira era uma vila modesta que governava estas vastas terras e um bando de desordeiros instala-se num lugar distante de tudo  chamado CURRALINHO.  Imperava a Lei do mais forte e o mando administrativo de um ou outro coronel com seus capangas para suprir a falta da guarda  militar do Império do Brasil. Três bandoleiros faziam fama na região PIMENTA, MANOEL CURI e ADRIANO PELUDO. Vãs tentativas em prendê-los resultaram em nada.  Eram assaltos, roubos e assassinatos nas mãos desses três que roncavam valentia por estas bandas.  Pimenta conseguiu ser emboscado por uma ação da família Batista em Piracaia liderados por Manoel Prado Mathias que em 13 de fevereiro de 1862 numa saraivada de tiros fizeram tombar o malfeitor em terras dos Cachoeirenses.

Manoel Curi foi assassinado em 30 de novembro de 1877 no bairro da Moenda em Curralinho numa de suas investidas contra moradores. Porém sobrava o mais temido, o pior da horda de bandidos ADRIANO PELUDO.  Consta que em 1883 estava preso em São Paulo porém repentinamente num descuido tirou a espingarda de uma policial e o matou, vindo refugiar-se no Curralinho. Várias diligências de policiais da capital e Piracaia em vão tentaram capturá-lo. Resolveu Peludo perseguir o alferes Alfredo Fernandes de Almeida morador das terras curralinhenses e este por sua vez ou se esquivava ou se juntava as diligências policiais para livrar Curralinho do temido bandido. Chegou oferecer uma recompensa a quem matasse o dito cujo.

E foi num desses dias que reunidos centenas de pessoas num mutirão em terras no bairro dos Pintos em Curralinho que dona Benedita Figueiredo (mãe do sr. Irineu de Souza Bueno) viu que Zé Mijão, um homem muito simples, gago, meio atrapalhado afiava com muito esmero sua foice. Indagado por dona Benedita Figueiredo disse ele que era para o mutirão do bairro dos Pintos.  Sabe-se que naquele dia acharam ADRIANO PELUDO morto a golpes de foice e depois de vivas a Zé Mijão e alivio do bairro do Curralinho e Piracaia ficou dita a história que “acidentalmente” a foice de Zé Mijão encontrara o pescoço e a veia jugular do bandido. 

Enterrado o criminoso e Zé Mijão livre da polícia, foi-se embora dessas terras viver só Deus sabe onde. Dando paz ao novo município que se formava.
Essa historia foi registrada no livro de nosso primeiro historiador Antonio Ferreira de Almeida e repetida por muitos moradores. Ecos disso chegaram a nós para falar como disse uma boa amiga, do primeiro herói de Curralinho. Depois de tantos crimes praticados aqui chegou a ser chamada de SÃO JOÃO DO FURA TRIPA, mas esta é outra história....

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


Homenagem a BRAZ JÓIA - AS ROSAS E O JARDINEIRO

Ora pois, que as rosas não falam! Talvez não falem mas sintam e expressem com suas cores e aroma o sentido de sua existência.
-Mas onde está o jardineiro?  Perguntou o cravo com ar prepotente.
-Não veio hoje. Respondeu um lírio todo branco e delicado.
-Onde estão as rosas? Indagou o jasmim com ar de espanto.
-Teriam sido roubadas à noite? Levadas por algum aventureiro? Cortadas por um apaixonado? Meu Deus! Onde estão as rosas?  Desesperaram-se as hortências.  
-Jardineiro, jardineiro – onde está você? Gritaram ao vento em uníssono todas as flores.
Silêncio... Ninguém respondeu, a praça estava vazia.
Caiu então a noite e desceram corujas ao jardim e ambas  numa conversa triste lamentavam a morte do jardineiro, que cuidava tão bem das flores, as quais felizes davam seu néctar, atraindo beija-flores, abelhas e borboletas, colorindo a praça da matriz em multicores, espalhando doce aroma por todas as horas. Lastimavam as corujas e diziam como foram orgulhosas as rosas que acompanharam o esquife do jardineiro, deixaram-se cortar com honra e coragem e num último sacrifício e sopro de vida ornaram de cores, mimos e perfumes a despedida de seu guardião.
Entenderam as flores os sumiços das rosas e do jardineiro, amanheceram tristes, sem perfumes, desbotadas, pálidas e murchas. Luto das flores, pelas rosas e pelo jardineiro. Mas, as sempre-vivas em consolo lembraram que morta a flor na terra brotam felizes nos céus e em troca novos brotos e flores renascem na terra numa eterna primavera de mundos.
Consolada as flores, compreenderam que as rosas se foram e outras já estavam brotando, reflorescendo o jardim. No entanto, o jardineiro se foi e outro não veio, nem virá, pois estará ocupado nos Campos do Senhor. 


BRAZ JÓIA (10-09-1911 a 02-03-2004)
Muitas pessoas marcam a história pelos seus feitos políticos, econômicos, científicos e sociais. Mas existem aqueles que marcam com seu carisma, sua vivência e até pelo seu capricho. Assim foi o amigo Braz Jóia, que marcou a história de Joanópolis pelo capricho com que cuidava das roseiras e de toda a praça de Joanópolis na década de 70. Não há quem não se lembre do jardim daquela época, em que todos se encontravam aos domingos, após a missa, na praça, com o curioso costume dos homens caminharem no sentido horário e as mulheres no sentido anti-horário ou vice-versa, facilitando assim encontros e paqueras. As roseiras viviam felizes ao sol, podadas em épocas e formas corretas, cuidadas com carinho e ciúme de seu guardião. Roubar uma delas era encrenca com o Braz Jóia e seu maior orgulho era ouvir os elogios sobre a rainha das flores e o perfume que elas exalavam por toda praça. 
Braz Jóia morreu em março de 2004 - aos 93 anos de idade, considerado o cidadão mais antigo de nosso município, estimado por todos os moradores e um exemplo de boa memória e bom viver.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012


POLÍTICA  - A POSIÇÃO DE AVESTRUZ NÃO RESOLVE!!!

Os cínicos dirão que fazer política é um bom negócio para os que se elegem a cargos públicos. Dá para por em ordem a vida da família, dos amigos e dos parentes. Não é a toa que em todas as eleições cresce o número de interessados em se candidatar a postos eletivos. Parece-lhes o meio mais fácil  e rápido de subir na vida. O trágico  é que aos poucos nos acostumamos com toda essa situação. É como se ela fosse natural, inevitável.  Vamos perdendo a capacidade de nos indignar.  A postura do avestruz não resolve os problemas.  A  saída é enfrentar os problemas, procurar resolvê-los. Se não o fizermos, outros o farão, mas dificilmente em benefício coletivo. Caberá, então, encarar a necessidade da atuação política consciente.  Não será possível fazer a omelete sem quebrar os ovos. A difícil arte de fazer uma política de novo tipo consiste em envolver-se na política que está aí, sem sucumbir ou afogar-se nela.  (Política pra quê? Marcelo Ridenti).

O que significa comprar votos?
A  compra de votos é o ato do candidato que propõe ao eleitor um bem ou vantagem em troca do voto. De acordo com a Lei, é proibido a qualquer candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor, com fim de obter-lhe o voto, bens ou vantagens pessoais de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública. 
(fonte: Campanha pela moralização política – Jornal da Serra Cambuí)