quinta-feira, 19 de dezembro de 2013



O ESPANTALHO
À amiga Rosita Flores 

Hoje não muito usado em nossas plantações, mas num tempo antigo muito presente na roça, os espantalhos espalhavam-se por ai.  E num desses fundos de roça que ouvi o presente “causo”. 
Contam que por um desses cafundós morava um garboso rapaz, descendente dos antigos coronéis e pagava pose de sinhozinho. Filho de família antiga, gente de posses, o rapaz de nome Bento vivia de terninho branco engomado, bonito, simpático e o chamavam de Bentinho.  Morador da casa do grande de um bairro distante era desejado pelas moças casadoiras; porém naquele tempo, essas coisas de amor e paixão, de nada tinham valor, quem decidia com que se casava eram os pais. E assim Bentinho foi prometido em noivado a Jurema, uma bela e educada moça de dezesseis anos; combinado entre as famílias que ambos após o casamento morariam na cidade. 
O tal Bentinho desperta ciúmes dos rapazes e suspiros das moças que por ali passavam ou trabalhavam na fazenda. Eis que poucos dias antes do carnaval, realizou-se as núpcias do casal, com grande festa e alegrias dos pais, e muito ciúmes das mocinhas, em especial de Maria Rita, a bela morena de vinte anos e ainda solteira, que vivia a suspirar pelos cantos da casa e imaginar seu amor com Bentinho. Maria Rita nutria pelo belo moço um amor platônico e triste, vivia a espiar o moço de longe, seguindo-o mesmo em seus banhos de rio. Neste amor impossível recusou casamentos e noivados.
 Bem, mas voltemos a Bentinho. Passado o Carnaval veio a Quaresma, e os moços da fazenda, arteiros como eles só, resolveram dar uma peça no sinhozinho. Chegando a semana santa, roubaram alguma roupas do varal da casa grande e na quinta-feira santa, estavam todos num grande paiol fazendo os tradicionais judas. Fizeram o judas de uma fofoqueira da cidade nhá Bertina, do farmacêutico Leôncio Zeca, que era chato como ele só, do coronel e famoso mão-de-vaca Tico Preto e do engomadinho Bentinho, que ficou na estica de terno branco de linho, chapéu e tudo mais!  Ora,  Maria Rita era filha da nhá Tuca, lavadeira da Casa Grande e comentou o ocorrido do sumiço das roupas do rapaz. Desconfiada Maria Rita cismou algo, pois bem conhecia a esperteza dos meninos da fazenda nesta época de judas. Sorrateiramente na calada da noite  foi até o paiol e logo deu de cara como o judas de Bentinho, e mesmo como judas, bem atochado de capim ela ainda o achou bonito. Neste amor doentio, Maria Rita cheirou o  judas de Bentinho, abraçou o boneco e ficou a imaginar seu grande amor em seus braços.  Como era bem eleve, colocou o judas nas costas e levou na sua casa. Que coisa feia, pensou ela, roubando algo na Sexta-Feira Maior e tendo pensamentos tão mundanos num dia grande desses! Chegou em casa e colocou o boneco em sua cama e dormiu com ele ao seu lado.
Amanheceu o sábado de Aleluia e os bonecos foram para praça, onde foram surrados, enforcados e antes de serem queimados como manda a tradição, foi lido o testamento de Judas, com grande algazarra e risadas dos presentes. No entanto, os rapazes notaram a falta do judas de Bentinho, mas dado tanto farra e tantos judas deixaram de lado o furto do dia anterior.
Após alguns dias e passado o dia de judas, o jeito era dar um destino ao boneco antes que sua mãe se zangasse, a solução foi levar o judas para a roça e finca-lo na terra, ao menos serviria para alguma coisa e não teria o fim do fogo como os outros bonecos.  Apesar de muito repreendia por sua mãe, Maria Rita recusou-se a queimar o judas e todo dia que iam trabalhar na Casa Grande ela avistava o espantalho novo da plantação.
Assim passaram alguns dias e numa noites dessas de lua cheia, houve um baile no terreiro da Casa Grande, festança das boas, sanfoneiro e todo mundo a dançar. E não é que numa hora dessas chega um belo rapaz de terninho branco, chapéu e todo educado, com um sorriso malicioso e hipnotizante. Moço cheiroso, dançador e muito parecido com Bentinho, levando muitos a crer que era algum parente. Sempre desconversando quanto a parentela, só sabiam que era um “moço da cidade”.
Indo embora a certa hora, ainda cedo, mas num bom horário para donzelas, Maria Rita antes de entrar em sua casinha lá no meio do morro, percebeu que seu belo espantalho não estava mais lá, talvez tivesse caído num pé de vento que dera há algumas horas, ou que os moços o pegaram de volta para suas estrepolias.
Dormindo Maria Rita acordou assustada como a ouvir passos ao redor da casa, um barulho de palha a esfregar pela parede, levantou acendeu o lampião e nada viu, enfim adormeceu e sonhou com o belo rapaz do baile. Outro dia cedo ao olhar para plantação, lá estava ele, o espantalho, arrumadinho, bonito, bem alinhado.  Outra noite veio, e o tinhoso a solta, como a tentar as pessoas, Maria Rita deu de chofre com o rapaz na beira da sua casa, quis gritar mas não conseguiu, ficou petrificada pelo susto, e antes que tomasse qualquer atitude foi profundamente beijada pelo rapaz que vira no baile na Casa Grande. Assim sucederam-se esses encontros misteriosos, com o inebriante perfume e o olhar penetrador do rapaz, tão parecido e cheiroso como o grande amor de sua vida, o Bentinho, que agora morava distante dali.
Passaram-se os meses e lá estava o tal espantalho, fincado na terra e que levantava certa curiosidade, pois estava sempre limpo, impecável, conservado, nem o sol e chuva parecia corroer suas roupas ou o enchimento do seu corpo. E foi num desses comentários com as lavadeiras na beira do rio que a velha nhá Sunta, antiga parteira do local, comentou que isso era mau sinal. Que não era coisa que se prestasse fazer um judas e não queimá-lo, ainda mais na Sexta-feira Santa, dia muito grande; pior ainda, usar um judas amaldiçoado como espantalho, que isso poderia provocar o Tinhoso a fazer suas artes por ai.  Cruz Credo !! Todos se benzeram após a fala de nhá Sunta.
Assim correram mais umas semanas, e os encontros furtivos com o “moço da cidade” continuaram, mas agora já dava para perceber algo ! A barriga de Maria Rita estava a crescer e precisou contar a sua mãe, que havia perdido sua virgindade, desonrada a família, com um moço que sequer sabia o nome.  Mãe e filha tentaram esconder por uns meses; proibindo Maria Rita de sair de casa e muitos perceberam a ausência da bela morena, nos bailes, festas e rezas. Assim correu o ano, novas festas, o carnaval e a quaresma de novo e lá estava o espantalho de Bentinho, limpo, alinhado, cheiroso no meio da plantação. Plantaram o milho, o feijão, a abóbora,  que brotaram, cresceram, secaram e o espantalho lá, tão novo como no primeiro dia.
Finda a Quaresma, chegou novamente a semana santa, a barriga de Maria Rita enorme, e o “moço da cidade” perambulando nos bailes do bairro, galanteando as moças, sempre de terno de linho branco, chapéu na cabeça e cheiroso, que aparecia e sumia como por encanto, deixando moças suspirando por aí.  Maria Rita as vezes ainda recebia a visita do seu falso Bentinho, de poucas palavras e muitas malícias.
Enfim chegou a sexta-feira santa, e os moços resolveram fazer novos judas, e foi numa dessas que alguém teve a ideia de pegar o espantalho na velha plantação de milho e devolve-lo a condição de judas e finalmente dar cabo no dito cujo. E lá foram dois rapazes na plantação, na sexta-feira santa, e tentaram, tentaram e tentaram e não conseguiram mover o espantalho fincado na terra. Chamaram mais dois fortes rapazes e nada, resolveram cavar ao redor, e depois de muito esforço conseguiram derrubar o boneco que passou a exalar um cheiro fétido de coisa podre e enxofre. Ficaram meio assustados com isso e procuraram os conselhos de nhá Sunta, que fez uma oração forte sobre o boneco e despejou pinga com arruda sobre o mesmo e atou as mãos do boneco com folha de palma benta.  Levaram então para a cidade e penduraram no poste em frente a Igreja do Arcanjo Miguel.
Desde esse momento Maria Rita entrou em grande tribulação, começaram as dores do parto que vararam a noite e duas parteiras presentes nada resolviam. Amanheceu o sábado de Aleluia e Maria Rita estava um tanto mais calma com poucas contrações. As dez horas na praça da cidade começaram a leitura dos testamentos dos judas, e a criançada começou a descer o pau nos vários bonecos, em especial no espantalho que de uma hora para outra ficou amarelo e envelhecido com forte cheiro de coisa velha. Maria Rita entrou outra vez nas contrações do parto, rolava de dores, gritava, suplicava e nada da criança nascer. Começaram várias orações no quarto; enquanto isso na cidade pauladas no judas e enfim atearam fogo, o boneco estrebuchou na forca, incendiou, balançou, girou e booom !!! Deu um grande estouro e todos ouviram uma gargalhada.  Arrepiados todos se benzeram com o sinal da cruz, mas só restou cinzas do antigo boneco de Bentinho.

Nesta mesma hora Maria Rita deu a luz uma criança branca como um sabugo de milho, os cabelos espetados e avermelhados como de uma espiga, olhos grandes e fogosos, que logo foi entregue a avó, pois Maria Rita estava desfalecida pelo difícil parto.  Dias depois refeita e com sua criança nos braços, Maria Rita soube do fim dado ao seu espantalho. Coincidência ou não, o tal “moço da cidade” sumiu das festas, dos bailes e do bairro.
Maria Rita, também sumiu da vida social, ficando somente com seu filho de cabelos vermelhos e branquelo como sabugo, apenas ouvindo nas noites enluaradas o barulho do raspar de palha de milho nas paredes de sua casa. 
Assim foi....
Valter Cassalho - Dezembro/2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013



MAESTRO JOSE  DOS REIS

"COMO SE GUARDA UMA RELÍQUIA NUM SARCÓFAGO SANTO, O JOANOPOLENSE GUARDA, NO  FUNDO  DO  SEU CORAÇÃO  A LEMBRANÇA DOS SEUS GRANDES HOMENS".  (José dos Reis - 1958)


Escrever sobre este homem para mim é um grande orgulho e também um dever, pelo fato de ter dedicado parte de sua vida ao jornalismo e a história, tal qual faço hoje, além de dedicar-se a música, um dos seus grandes feitos. Porém, não é tarefa fácil tendo em vista que o mesmo era um homem das letras, ilustrado e grande conhecedor do nosso idioma nacional, portanto, ficam aqui minhas humildes desculpas por algumas falhas.
JOSE DOS REIS nasceu em Cambuí do Estado de Minas Gerais, no dia 21 de setembro de 1899, filho de Jesuíno dos Reis e Ricardina Alves de Moraes. Estudou música e tornou-se pistonista. No ano de 1936 a convite do então prefeito de Joanópolis Antonio Fernandes Cardoso transferiu residência para nossa querida cidade, a fim de ministrar aulas de música e formar uma banda municipal. Entre seus alunos e futuros grandes amigos destacaram-se Francisco Toledano Sanches e João Toledano Sanches que mais tarde também se tornaria maestro.
Neste período, possuindo Joanópolis clubes sociais ligados aos partidos políticos, JOSÉ DOS REIS passa a ser o maestro da Corporação Musical Nove de Julho, pertencente ao clube PC (Partido Constitucionalista) que tinha como compositor Olympio Costa. Enquanto que o clube do PRP  (Partido Republicano Paulista) manteve sua banda sob o comando do Maestro João Francisco de Paula. A rivalidade entre ambas proporcionava belíssimos espetáculos em nosso coreto, bem como  bons e animados bailes.  No entanto no ano de 1938 para a alegria de todos ambas se uniram formando uma das mais belas bandas de Joanópolis, que antecederia a criação da grande Lira Joanopolense (1951).
No inicio residindo em Joanópolis passou a exercer a profissão de barbeiro durante o dia para completar a renda como professor de música, cuja atividade desenvolvia a noite; sendo que mais tarde passou a trabalhar na Prefeitura Municipal na parte de finanças onde também se destacou pela sua competência e caráter.
Apaixonado pela música ganhou um concurso musical, sendo seu maxixe “MALUCO” incluído no disco “Mozart e sua Bandinha – Onde Canta O Sabiá”  no ano de 1958, gravado pela RCA VICTOR.
Em meados de março de 1958 fundou o NOSSO JORNAL, um dos melhores órgãos de imprensa de toda história joanopolense, exímio jornalista, cuidadoso revisor, bom redator e grande cronista. Ao NOSSO JORNAL devemos muito da divulgação e perpetuação da nossa história. Apesar de toda dificuldade financeira conseguiu manter este importante órgão da imprensa até o ano de 1963. No jornalismo ainda foi colaborador do “O PIRACAIENSE” e a “A GAZETA DE CAMBUI”, com crônicas, reportagens, contos e poesia.
Ainda nas letras escreveu o livro JOÃO BELISÁRIO, SUA VIDA E SEUS CRIMES, publicado em 1955, contando a saga deste matador de aluguel da primeira metade do século passado, na região sul mineira e zona Bragantina, bem como o conto: “DESAFORTUNADOS” -  livreto publicado em 1950, e o livro “MISCELÂNEA” que, infelizmente, não teve a oportunidade de publicar.
Esse grande mestre e profundo colaborador em todos os sentidos do município de Joanópolis, casou-se em 26 de novembro de 1921, em Cambui-MG com dona MARIA AMÉLIA DOS SANTOS (também conhecida por MARIA DOS SANTOS REIS)  com quem teve nove filhos: JABES, NADIR, JERCY, JESSÉ, NAIDE, NEREIDE moradora em nossa cidade até hoje, ANTONIA, JADER e NILZA, sendo esses dois últimos naturais de Joanópolis e os demais da cidade de Cambuí onde residia. Faleceu em 15 de abril de 1969, aos setenta anos de idade, sendo até hoje lembrado com carinho e admiração pelo nosso povo.
Como as palavras tem poder, não poderia deixar de citar um trecho da matéria do jornal Segunda Juventude do ano de 1972, escrito por Alfredo Enio Duarte: “Algum dia quando contemplarmos uma rua ou avenida de Joanópolis, em cuja placa figure o nome de JOSÉ DOS REIS, reverenciaremos o jornalista, o escritor, o maestro, o amante da língua portuguesa e o mais autêntico joanopolense de outras terras”. Décadas mais tarde uma das ruas de nossa cidade passou a ostentar o nome MAESTRO JOSÉ DOS REIS bem como a biblioteca da Escola Vicente Camargo Fonseca desde 24/6/1996 o tem por patrono.
A JOSE DOS REIS e família nosso sempre e eterno obrigado.
(p/ Valter Cassalho – 08/11/2013)

terça-feira, 29 de outubro de 2013



ADMINISTRAÇÃO FERNANDES CARDOSO

Boletim Informativo da Prefeitura Municipal de Joanópolis

(Joanópolis e Sua História datado de 01/05/1944 – escrito por JOSE DOS REIS).


Foi no dia 19 de julho de 1938 que o Sr. ANTONIO FERNANDES CARDOSO, num ambiente de verdadeira cordialidade, assumira o exercício do posto que lhe destinara a confiança do Interventor Adhemar de Barros.Assumindo o exercício do cargo o Sr, FERNANDES CARDOSO, tratou de congregar em torno de si todos os elementos representativos do Município afim de que com a colaboração de todas as classes, pudesse mais facilmente cumprir o seu vasto programa administrativo. E a sua atuação de rara operosidade, vem sendo secundada por todas as autoridades e por toda a população do município.  Cardoso com um patriotismo, com uma coragem inaudita e com uma perseverança digna dos mais francos encômios, tem feito o possível para que o desenvolvimento e o progresso de sua terra natal se torne maior e mais intenso, não descuidando, também, do embelezamento de sua urbis. Deste modo Joanópolis não só se modernizando, como também tendo os seus problemas resolvidos definitivamente. Um dos problemas que atualmente ocupa a atenção do Sr. Fernandes Cardoso, é o que se refere a REMODELAÇÃO DA REDE DE ÁGUA DA CIDADE. 

Esse problema foi ESTUDADO COM CUIDADO, por  todos os antecessores do Sr. Cardoso, na administração municipal, não tendo nenhum deles encontrado a chave para sua solução. O Sr. Fernandes Cardoso, numa longa visão administrativa, e com o apoio do benemérito governo do exmo. Sr. Dr. Adhemar de Barros, resolverá esse problema que muito irá concorrer para o nosso desenvolvimento. Pelas mãos do Sr. Interventor Federal já passou o referido processo de REFORMA DA REDE DE ÁGUA da cidade, recebendo de Sua Excelência parecer favorável. Assim espera-se que esse problema seja resolvido brevemente.

OUTROS MELHORAMENTOS tem em vista o Sr. Prefeito Municipal, como por exemplo, o PEDREGULHAMENTO das ruas, aumento da REDE DE ESGOTO, REFORMA DO PRÉDIO onde está instalada o MERCADO MUNICIPAL e REMODELAÇÃO DA PRAÇA SÃO JOÃO.
No exercício de 1940 foram construídas ou reformadas pela atual administração MAIS DE 40 PONTES em todo o município. Os bairros beneficiados por essas construções ou reformas são os seguintes; Bonifácios, Can-Can, Alves, Pretos, Sabiá-Una, Dúvida, Pintos, Olaria, Taboão, Estiva e Sete Pontes.
Foram reformadas mais de 70 QUILÔMETROS DE ESTRADAS DE RODAGENS dentro do município. Na cidade foram alteradas e ABAULADAS TODAS AS RUAS, sendo também reformadas os BOEIROS DA PRAÇA Padre Domingos Segurado, rua Cap. Antonio Mathias e Luiz Figueiredo. Atualmente está sendo REMODELADA A PRAÇA PEDRO DE TOLEDO.

Ao assumir o exercício do cargo em julho de 1938 o Sr. FERNANDES CARDOSO encontrou a Prefeitura em atraso com o pagamento de juros de sua dívida flutuante. Ao encerrar o exercício, isto é, cinco meses depois de sua posse o Sr. Cardoso PAGOU TODOS OS JUROS VENCIDOS até aquela data, num total de 3:331$500 e amortizou um título de importância de 2:889$000 (réis).

A arrecadação do município tem melhorado sensivelmente sob o controle do Sr. FERNANDES CARDOSO. Em 1937 a arrecadação da Prefeitura Municipal foi de 51:326$500; em 1938 sua renda subia para 52:248$500; e em 1939 já a sua receita atingiu a soma de 55:583$250, e em 1940 a sua arrecadação chegou a 75:609$800.  A receita prevista para o corrente exercício é de 80:000$000. O desenvolvimento de Joanópolis como a de todos os municípios do Estado, proveio da união de todos os paulistas que numa verdadeira comunhão de idéias cerraram fileira ao lado dos administradores que hoje integram, com verdadeiro espírito de brasilidade, o ideal da nacionalidade sintetizado no governo patriótico do eminiente Chefe dr. GETULIO VARGAS.  E as relações mantidas pela municipalidade e Estado são as mais cordiais possíveis, sendo o nome do Interventor Federal  dr. Adhemar de Barros, unanimamente acatado em todo o município de Joanópolis. Ao regime de 10 de novembro instituído pelo Presidente Vargas devemos a evolução social, intelectual, econômica e financeira  dos nossos municípios. 



QUEM PAGA O PATO?

Tão conhecido no mundo, quer como selvagem ou doméstico, o pato vive pagando o pato dos humanos. Pobre animal, que apesar da carne saborosa empresta seu nome como adjetivo a pessoas tolas ou más jogadoras.
Pode parecer patético, mas o pato possui seus mistérios, principalmente depois de morto. No universo caipira o pato é saboreado com arroz ou bem assado, mas matar um pato demanda alguns rituais curiosos.  Para um pato ficar bom, tem que ser cruzado, ou seja, ter as penas das pontas das asas entrelaçadas quando fechadas; deve-se fechar o bicho dias antes e alimentá-lo somente com milho, evitando assim um possível gosto de barro ou cheiro forte em sua carne. Para destroncá-lo não é tarefa tão simples como fazem com os frangos, tem que colocar a cabeça no chão sendo apertado por um cabo de vassoura ou taquara e puxar com firmeza seu tronco e que não tenha ninguém com dó por perto, senão o bicho demora a morrer.  Morto o pato, deve-se pegar uma vassoura e varrer suas penas ao contrário, o bicho é rechonchudo e entrelaçado de penachos macios, tanto que muitos a aproveitam para bons travesseiros.  Varrido o pato, lava-se as penas ao contrário com água fria e depois o colocam na água fervente, vai para a peneira e começa o trabalho de despenar o pato. Para isso, silêncio absoluto, pois não se pode nem conversar e muito menos rir neste instante, senão o bicho fica duro e não despena, ficando cheio de penachinhos que mesmo depois de retirados precisam ser sapecados no fogo.  Somente depois desse ritual o mesmo estará pronto para ser lidado, ferventado, temperado, cozido ou assado de acordo com o gosto de cada um. Talvez tudo isso seja por vingança de tanto que usam o nome do infeliz animal.
O dito pato é gracioso na água e muito desajeitado na terra e com isso mulheres que andam de forma desajeitada, muito das vezes por serem gordas recebem o nome de patas chocas, homem que sai com mulher e não consegue nada, leva o nome de pato, aquele novato que entra no jogo também é pato, quem sai com muita gente para comer e paga conta, diz-se que está pagando o pato. Tem até música ironizando o pobre coitado, o famoso Pato Pateta (Vinicius de Moraes e Toquinho).
Quando a cuidadosa pata põe seus ovos, também é discriminada pois se referem aos ditos ovos como “ovo de pato” (como se o macho pusesse ovos). Alguém que seja fanho chamam de qüem-qüem, já alusivo ao som emitido pelo pobre pato. Nos contos infantis fazem alusão ao patinho feio, e este serve ainda para designar muita gente. Se o sujeito mancar chama de pato manco, se o pé for feio demais dizem pé-de-pato, se gostar muito de água afirmam: -é um pato na lagoa. De acordo com pesquisa de Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima (livro Lobisomem Assombração e realidade – 1983) as bruxas transformam-se em patas, roubam crianças e procuram bebidas alcoólicas para embriagar-se.
Não faz muito tempo que os tais patos quando vinham a ser vendidos na cidade por defecarem muito não vinham em jacás, mas sim carregados por duas pessoas, sendo apeados e postos de cabeça para baixo no chamado “varal de pato”.
Patético ou não, alguém tinha que pagar o pato desta crônica, ainda bem que foi o pato, que discriminado ou não, continua sendo um saboroso prato em nossas mesas.