terça-feira, 29 de novembro de 2016

BARBA COM ARCO TARCO E VERVA


A barba sempre teve seus grandes simbolismos, variando de acordo com épocas e locais, em algumas épocas era símbolo de luto e tristeza, em outras de respeito e tradição, em alguns países faze-la era contrariar a lei; em outros deixá-la crescer era uma vergonha ou desleixo. Basta ver gravuras sobre os gregos, romanos, egípcios, árabes, judeus, assírios para se ter uma idéia de quanto o uso da barba variava, chegando mesmo a dar nomes a personagens da história, Barba Roxa, Barba Ruiva, etc.
No ocidente variou-se muito a questão da barba, ora reis e fidalgos barbudos, ora raspados.  Consta que em Portugal Dom Fernando (1345-1383) foi o primeiro a cortar o cabelo e fazer a barba sendo imitado pelos fidalgos, membros da corte e outras pessoas, ganhando assim o apelido de chamorros (tosquiados) pelo rei de Castela na batalha de Aljubarrota.  Mas a barba ainda voltou a imperar em Portugal por diversas vezes, durante o reinado de Pedro II (de Portugal) ele voltou a diminuir as barbas e Dom João VI a aboliu por completo, sendo imitado pelos súditos.
O costume de barbas, bigodes e cabelos era tão importante, que até pouco tempo no Brasil, para um jovem fazer a barba pela primeira vez deveria pedir permissão ao pai, sendo a primeira barba acompanhada por padrinhos e parentes próximos, marcando assim  um novo ciclo de vida, um novo homem.  Assim sendo as barbearias desde a época de Roma  Antiga sempre tiveram grande importância na vida dos cidadãos. Em nossa região, dado a novos costumes as barbearias tradicionais desapareceram e quase todos fazem a barba em casa. Vem da barbearia o costume caipira de  dizer  “arco, tarco e verva”, ou seja, quando se tinha dinheiro sobrando dava para mandar fazer a barba e ainda passar um álcool, talco e aqua velva e também o dito popular “fizemos cabelo e barba”, quando o prefeito ganhava a eleição e ainda fazia maioria na câmara. 
Quem ilustra bem este costume das barbearias é Ignacio de Loyola Brandão numa crônica a  Revista Caros Amigos – abril/1998: “Fazer barba sempre foi coisa de homem. Mesmo a mulher barbada do circo não podia fazer a barba ou perderia o emprego. O ritual do barbeiro – em extinção – era sagrado, aos sábados. No começo da tarde, os homens iam chegando e a barbearia lotava, ás vezes pelas nove da noite que o último freguês saía da cadeira. Porém o ritual do barbeiro nada mais era que desculpa para conversar; para falar mal dos políticos, reclamar dos chefes, falar bem e mal das mulheres, fofocar, trocar informações, enquanto ele raspava o nosso rosto com a navalha Sollingen, afiadíssima. Não se podia ser inimigo do barbeiro, sob pena de ficar na cadeira em um suspense formidável; era necessário iniciação  para não cortar a carótida. O barbeiro, as vezes perguntava: “Quer uma toalha quente?” Maravilha, amolecia os pêlos, custava mais caro.  Depois de barbear vinham o talco e álcool. Se você tivesse dinheiro, mandava passar Aqua Velva. No sábado, os homens cheiravam a Aqua Velva, mesmo que não tivessem ido ao barbeiro, comprava-se na farmácia, era a única loção pós-barba. Depois, ela caiu de moda, cedeu lugar ao Pinus Silvestre e ao Lancaster. E aí apareceu o creme Bozano, aquele que não necessitava de pincel. Vai chegar o dia em que os homens depilarão o rosto a laser ou farão plástica para eliminar a barba”.
Antes de fazer a barba neste sábado e ficar todo belo e cheiroso, lembre-se que neste simples ato existe muito simbolismo e história, e como recolheu um dia Câmara Cascudo em versos do norte: “Deus te dê o  que deu ao bode, catinga, barba e bigode!”.
Prof. Valter Cassalho

Comissão Paulista de Folclore