terça-feira, 26 de junho de 2012

CORES, SABORES E ODORES


FOTOS - Leonil Junior 
Texto Valter Cassalho

Estouros ao ar, cheiro de pólvora. Barulhos e alaridos pelas ruas, vento nas bandeirinhas multicoloridas. Sopro do vento de junho, badalos de sinos, revoada de pássaros assustados.
Olhos pueris vidrados nos balões de gás, no brilho da roda gigante, nos cata-ventos, nas luzes dos brinquedos eletrônicos.
Cheiro de algodão doce, de morango caindo no rubro da calda doce, cor encarnada de maçãs mergulhadas na calda fervente que exala o cheiro do açúcar queimado ao ar.
Fumaça da chapa, cheiro de carne, de pimentas, temperos.
Cocadas coloridas, pretas que são marrons, alvas branquíssimas, amarelas cravejadas com cravo perfumado, sabor do coco doce na boca, dissolvendo como o prazer de um torrão de açúcar.
Gengibre, cravo, canela – o quentão fumega na chapa de um fogão-a-lenha, a taquara racha, chia e solta fumaça, novos cheiros no ar.
Roupas de grupos, fitas de congadas, chapéus enfeitados, vão, vem e passam, misturam cores  e formam um mosaico no tinir de espadas.

Bate a mão do pilão, pila a paçoca amarela da farinha de milho, a mesma que cai sobre o caldo do afogado que revira na panela cheirosa e mostra novas cores.
Café preto do bule ao lado da broa de fubá, amarelada na folha verde da bananeira. Preto, verde e amarelo, meu café com broa, meu café com paçoca de carne, mas que pode mesclar na paçoca avermelhada de amendoins.
Roupas balançando em cabides embandeirando as barracas. Nos mastros bandeiras oficiais, nos estandartes as bandeiras dos santos, que descem ladeiras, ao toque de sinos e foguetes estrondosos.
Passam pessoas suadas de seus bailados, outros desfilam cheirosos para a festa. Transitam, misturam-se em vozes, alaridos, musicas, tambores, violas...  Vão e vem, serpenteiam, trançam-se no desce-desce e no sobe-sobe das ruas.
Assim é a festa, com seus cânticos, seus rituais, seus andores, com suas CORES, ODORES e SABORES.

Parabéns Joanópolis!!!!


terça-feira, 19 de junho de 2012


A PRIMEIRA FESTA FOI ASSIM...

Foi num dia qualquer de junho do ano de 1878, no bairro denominado Curralinho, onde existiam algumas propriedades, como a de Domingos Fernandes de Almeida, João Wohlers, Luiz  Figueiredo, Anselmo Caparica, Ambrosina Pinto, Pedro de Oliveira Cezar e  tantos outros. Em algumas dessas casas, numa tarde, tomando um bom café, olhando para os verdejantes cafezais que dobravam o morro, que alguém teve a grata idéia de se realizar uma festa joanina, mais precisamente para São João Batista.
Mas, quem seriam os festeiros? Resolveram fazer um sorteio e a tarefa recaiu sobre dona Ambrosina Pinto e Anselmo Caparica, esposo de Bruna Figueiredo.  Seria uma festa simples, porém, muito animada.
No dia 23 véspera da festa, o bairrinho acordou animado, fazia um frio intenso e o céu azul das manhãs juninas contrastava com o mar verde de cafezais que exalavam um doce perfume pelo ambiente. As mulheres reuniram-se e prepararam muitos doces, bolos, bolachas, guloseimas e muito quentão para a noite. Os homens mandaram seus feitores cavarem um buraco próximo a santa cruz ao lado da casa de Domingos Fernandes de Almeida, cortaram  uma alta e esbelta árvore, tiraram suas cascas e a enfeitaram com frutas e flores e colocaram a moldura com a estampa de São João ainda menino segurando seu carneirinho. Estacaram, empurraram e socaram a terra, pronto, lá estava o mastro para São João, um marco definitivo para nossa história.
Caiu a noite com seu manto bordado de estrelas, era noite de São João, a fogueira crepitava alta, chegavam os convidados e numa mesa improvisada no quintal de Domingos Almeida, iam depositando os mais os saborosos pratos. As crianças deliciavam-se com os cartuchos de papel bem atochados, em cujo interior encontravam-se balas, amendoim doce e pipocas, ofertados pelos festeiros.  Com seus longos casacos e xales, todos agruparam-se em torno da fogueira e um bom sanfoneiro acompanhado de violas puxou a primeira quadrilha, depois uma polca que foi dançada com dificuldade no chão irregular. Foram foguetes de vara  pelo ar anunciando a festividade. Muitos foram para a casa, mas, vários homens ficaram junto ao fogo até alta madrugada, bebendo um quentão e discutindo novas idéias.
  Na manhã seguinte uma fina camada de geada  e um vapor úmido subia do chão, outra vez reuniram-se ao som dos fogos e violeiros, cantaram e unidos pelo pensamento ajoelharam-se ante a pequena cruz e rezaram um terço a São João. Cabisbaixos, o astro rei, que tímido passava pelo anil do céu, derramava bênçãos de luz sobre o local, coroando a todos com sua majestade.  Ergueram-se, gritaram viva a São João e pactuaram a construção de uma capela naquele local. Uma capela para abrigar o padroeiro da nova cidade que todos almejavam construir.
A cidade de São João,   a cidade do Curralinho, cercada pelas muralhas montanhosas da Mantiqueira, coberta pela riqueza dos cafezais  e alegre como a boa nova anunciada pelo precursor do cristianismo acabava de nascer. A voz que anunciou a vinda do Cristo pelas margens do rio Jordão, agora  proclamava uma nova idéia pelos moradores das margens do rio Jacareí.  Nascia neste dia a cidade de São João do Curralinho, nascia alegre, festiva e dinâmica. A nova cidade, uma cidade Joanina,  a CIDADE DE JOÃO!!!

segunda-feira, 11 de junho de 2012


ETA SODADE DAS FESTAS DANTES

Mais nem diga cumpadre! Que sodade das banda de músicas fazendo retreta no coreto, tocando na procissão, mecê se lembra da procissão de São João? Cumprida tuda vida, andor enfeitado de luz,  cheio de flor amarela e branca, mortero no ar fazendo tremê a terra. Aquele monte de anjinho cercando os menininhos vestidos de São João puxando os carneirinhos chorosos no meio do povo. Todo mundo rezando e os festeiros dando saquinhos de bala e santinho pra gente. Que sodade cumpadre, dos tempo dantes!
Hoje tudo mudado, os fio da gente vão pras escolas dança quadrilha e coitada da professora que parece que nunca viu caipira na vida; manda a criançada por camisa xadreiz, carça jeans e bota de bico fino e aquele chapelão de firme de cinema.  Da inté dó e ainda por cima mandam enchê a roupa de remendo  e tocam umas musicas que nem a gente gosta e pra piorá e fazê poco-caso da gente pinta os dentes de preto, como se nóis fosse tudo desleixado. No nosso tempo, caipira ia pra quadrilha de terno, alinhadinho, nem que fosse terno pegando foguete, chapéu de paia novinho em foia, barba feita cheirando agua verva, sapatão novo e carça vincada de brim, na estica! Música de quadrilha, pra nóis era Moreninha Linda ou o Mario Zam  fazendo levantá poeira no arrasta pé.
Tempo bão aqueles. Nóis guardava dinheiro e vinha pra festá, comprava roupa nova, brinquedo pras criança, argodão doce  de segurá com paper de pão, puxa-puxa e cartucho de amendoim. Brinquedo pra nóis era as bolinhas de pó de serra amarrada no elástico, patinho de madeira que quando andava batia as asa, bexiga  colorida e cata-vento. As muié aproveitava pra comprá umas panela nova, uns vestido mais moderno, umas blusas de lã, enfeite pro cabelo e outras coisa mais. Dispois nóis reunia em frente da igreja e ficava escutando os violeiros, as moda de Tião Carreiro e Pardinho, Liu e Léo, Tonico e Tinoco, Jacó e Jacozinho, forante as piadas  e desafios de corria pro meio e dispois ainda terminava tudo num catira gostoso, com muito quentão. 
Congada e Moçambique tinha o dia todo e tem gente que acha que os dois é a mesma coisa. Caiapó queimando porva pra lá e pra cá, vinha inté de outras banda e dispois reunia tudo pra conversá. Banda era o dia inteiro, uma revezando com a  outra, num bailado loco de gostoso. As rua cumpadre, tudo enfeitado de bandeirinha colorida  e taquarinha pra procissão passá, a igreja intão tinha luizinha de cor de cima em baixo, uma belezura que só veno.  Tinha arvorada, com banda e muito foguetório e mortero! Tinha  o homem da cobra vendendo remédio com uma sucuri na mala e até muié  que virava macaco.
Agora põe este parque que acaba com dinheiro e as criançadas fica que nem loco, as musicas uma moda de fazê boi durmi de tanta cornisse ou senão uma baruiera e gente rebolando que não acaba mais.  Politico então, é um tar de pegá na mão que a mão da gente parece inté fita de pé de santo.
Sodade daqueles tempo cumpadre, sodade de tudo, da festa gostosa que reunia tudo mundo, sodade da viola, da sanfona, das paçoca, do afogado, do quentão, da procissão que de tanta gente passavam uma corda no meio, das brincadera, do leilão. Sodade das fogueira, dos mortero, das modas, das quadrilha, de tudo. Tempo bão aqueles!  Eta sodade marvada!

Valter Cassalho


segunda-feira, 4 de junho de 2012

POLITICA: O GATO, A BOSTA E O PARDAL


O GATO, A BOSTA E O PARDAL

(p/Valter Cassalho)

Bem, antes que me critiquem pelo fato de usar o termo “bosta” queria quebrar o paradigma ético da mesma, pois de acordo com o dicionário esta palavra vem do latim “bostar – estábulo”, refere-se a excremento de animais, em geral chamado esterco, diferente portanto de merda (vide dicionários).
O fato é que me lembrei esta semana, de tanto ver políticos se cobrindo com penas de pavão, da velha história do PARDAL que voando numa região fria ficou congelado e caiu num estábulo, uma vaca vendo a situação do pobre pardal foi até ele e cagou em cima do bichinho, sendo que suas fezes quentes o aqueceram e ele recobrou a consciência e tornou a viver. Pensando somente que estava na bosta e não num lugar aquecido que lhe trouxe à vida, não ficou de bico calado e chamou a atenção de um gato que por lá passava e viu a situação e foi ao “socorro” do animalzinho. O gatinho solícito tirou o pardal daquela situação, lambeu ele todinho, deixou ele limpinho e novinho em folha, mas como gato é gato e não vai morrer cachorro,  quando viu o pardal limpo e cheio de vida, deu um pulo e devorou o bichinho imediatamente.
Bem, a moral desta história sempre fica naquela que nem todo de “caga” em você é seu inimigo e aqueles que ficam te lambendo pode bem ser um gato ousado e dissimulado querendo lhe devorar. Assim vejo alguns políticos ou gente do “poder” sendo constantemente lambidos pelos beija-mãos, aduladores, pelos piolhinhos do palácio, isso mesmo, tal como existem piolhinhos de rico (que grudam quando vêem um, principalmente se for de São Paulo), existem os do palácio, das prefeituras e etc, atacam prefeitos, vereadores, secretários, governadores e outras autoridades.
O que quero mostrar é o perigo desses lambedores do poder, que adulam, elogiam e empavonam os políticos e estes por sua vez ficam anchos e cegos e não conseguem ver a realidade das coisas, esquecendo-se daqueles que o colocaram no poder.  Ficam congelados como o pardal da história e as vezes precisamos despejar (eu escrevi despejar viu!!!)  uma série de verdades e críticas construtivas (não críticas hipócritas de políticos partidários) para aquecê-los e trazê-los à realidade. São essas pessoas por vezes muito mal interpretadas pois descarregam (eu escrevi descarregam – certo??) suas críticas e verdades aos tais pardais da política e são taxados de xiitas, ingratos, radicais, etc. E os ditos pardais políticos acabam chamando a atenção de muitos “gatos” de plantão, que abanam o rabo, se esfregam, lambem, discursam em cima de muros e nos telhados dos castelinhos das vaidades e deixam os mesmos em suas garras e prontos para serem devorados no momento certo.
A vaidade, o empavonamento, a rasgação de seda, o jogo dos confetes, o brilho, o narcisismo, faz com que caiam no pulo do gato, que se tornem cegos e acabem por se matar politicamente e ao invés do lugar aquecido da consciência ele vai direto pro fosso. Ou para fossa? Fica a critério de cada um.