quarta-feira, 17 de maio de 2017

A HISTÓRIA DE MARIA CUNHA - A MUITO CATÓLICA

Maria Celestina Domingues, conhecida também como Maria Cunha, vem da família dos Grilo, nasceu em terras da antiga Santo Antonio da Cachoeira (hoje Piracaia), por volta de 1865, era filha de João Domingues de Souza e Ana Theodora da Silva, e moradora do extenso e conhecido bairro do Curralinho, onde décadas mais tarde seria o município de São João do Curralinho (hoje Joanópolis).  Por estas terras cresceu e viveu sua infância e juventude e casou-se em 24 de abril de 1883 na igreja de Santo Antonio da Cachoeira, com ANTONIO JOSE DA CUNHA, este filho do primeiro casamento de Pedro José da Cunha (filho de Gertrudes Maria de Jesus natural de Nazaré Paulista)  com Antonia Francisca de Jesus (esta filha de José Ramos da Silva e Clara Maria de Jesus), na ocasião de seu casamento consta Pedro José da Cunha (casado em 1850), como falecido.
MARIA CUNHA ficou viúva em 28 de dezembro de 1906, falecendo  Antonio José da Cunha com apenas 45 anos de idade, deixando vários filhos, ainda adolescentes.
Alguns familiares referem-se a ela como MARIA CUNHA – a muito católica.  Consta que tinha uma casa de assistir na praça ao lado direito da igreja matriz de Joanópolis (hoje casa nº 186), onde vinha todo final de semana assistir a missa ou participar dos dias de festas da igreja.
Segundo descrição de suas netas era uma mulher um tanto gorda, baixa e conhecida por sua religiosidade e generosidade, um dos seus filhos a trazia de charrete todo sábado para a cidade, onde pernoitava e assistia o oficio na missa no domingo pela manhã e a tarde retornava para seu sítio. Este sítio era  logo no início do bairro dos Alves, nos Bugres próximo ao Cancan, também chamado de bairro dos Gatos, numa área com cerca de sessenta alqueires, por onde cresceram filhos e netos. Como boa matriarca sempre fez questão que seus filhos após casados continuassem morando em sua casa ou construísse casa em seu terreno, mantendo-os sempre por perto.
Contam que durante a Quaresma fazia com que todos os filhos, genros, noras e netos cumprissem à risca as penitências e rezas desse período, além disso, todos faziam parte de Irmandades da Igreja. No período da Quaresma comprava caixas de bacalhau para consumo durante a abstinência de carne. Costumava pendurar peças e peças de bacalhau num grande quarto da casa e ir comendo nos quarenta dias que antecedia a Páscoa distribuindo a filhos e netos durante a semana santa.
Teve os seguintes filhos: SEBASTIÃO (nascido em 1891 e casado com Maria Francisca de Oliveira da família Villar Garcia), JOÃO ANTONIO (casado com Ernestina e pai de Antenor Cunha), JOSE (casado com Rosa), ANTONIO (casado com Joana e depois com Gertrudes), CARMEN (casada com José Magro e pais de Maria Lau casada com João Lau – família Siqueira), BERTHA MARIA DA CONCEIÇÃO (casada com Antonio Villar Garcia), RITA (casada com Guilherme da Silva Mello irmão do Ceciliano vulgo Alhano), MIGUEL DOMINGUES DA CUNHA casado com Benedita Maria de Jesus  (pais do Antonio  Domingues da Cunha (Nicão 1920) e de Rosa Cunha).  Todos cresceram e moravam junto a Maria Cunha e por ela guardavam grande respeito e muitas lembranças que chegaram até nós seus descendentes.
UM COLAR DE OURO – Era costume MARIA CUNHA sempre usar um colar de ouro, pois os antigos portavam ouro, em colares, dentes, anéis e brincos. Seu colar de ouro tinha dupla função, não apenas enfeitava a matriarca como também, era usado para cortar as brotoejas, uma doença bem comum em bebês na época. Como simpatia, na hora do banho colocava-se o colar de ouro na água onde ia se banhar as crianças curando e evitando vários males. Costume esse que ela utilizou em seus filhos, e em seus netos, tanto que cada vez que nascia um deles, ela enviava o colar de ouro a mãe da criança e esta ficava com ele por um bom tempo, devolvendo tempos depois. Assim o colar de ouro de Maria Cunha andou de  casa em casa de seus filhos e no pescoço e banho de muitos de seus queridos netos, até perder-se no monte mor da herança após a sua morte. 
O TRISTE DIA DA FESTA DE SANTA CRUZ – No ano de 1933 foi um triste ano para a família Cunha. No dia primeiro de maio reuniu-se a família junto a dois monjolos, o velho que possuía a antiga casa de monjolo e o novo que ainda estava com casa de monjolo por fazer. Vários familiares reunidos para fazer farinha e paçoca para uma Festa de Santa Cruz que aconteceria no dia 03 de maio, da qual Maria Cunha era devotíssima.  Todos em seus afazeres e as crianças brincando, até que infelizmente por volta das quatorze horas a filha da Bertha Maria da Conceição de nome Maria com seis anos aproximou-se demais do monjolo novo sem casa e este ao descer o malho bateu em sua cabeça e essa caiu dentro do pilão do monjolo. O impacto a matou imediatamente e o monjolo por sorte caiu para traz e travou, não voltando a cair sobre o pilão, evitando assim uma cena muito pior do que aquela que estava acontecendo. Logo em seguida sua mãe a vê caída e quando chegou perto percebeu a tragédia ocorrida. Foi um desespero total na família,  acabou por reunir muita gente e requereu a presença de inspetor de quarteirão e  muitos vizinhos.  A tragédia acabou com a festa e o dia de Santa Cruz (03 de maio) sempre trouxe a triste lembrança do acontecido daquele dia.
MARIA CUNHA  veio a falecer meses depois no dia 26 de setembro de 1933, em Joanópolis onde foi sepultada, em seu velório compareceram muitos familiares e amigos, passando o cortejo pela matriz onde foi recebido pelas irmandades e recebeu os últimos sacramentos antes de adentrar à vida eterna.
Sua presença na família apesar de tão distante data foi marcante, sendo lembrada e suas histórias contadas e recontadas sempre por nossos bisavós e avós, em especial no período da Quaresma ou no dia de Santa Cruz.  Maria Cunha partiu há mais de oitenta anos mas suas histórias, carinho e devoção à fé católica até hoje são comentadas.  A ela nossas homenagens e agradecimentos.
(Valter Cassalho – tataraneto)