quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Mas, será o Benedito...!?


São Benedito é um dos santos mais populares do Brasil, principalmente na zona rural da região sudeste, onde se concentra grande parte da civilização caipira. A intimidade com os santos é uma constante dentro do nosso universo caboclo, no qual atribuem-se fortes personalidades, lendas e superstições sobre  os mesmos. Na crença cabocla São Benedito é um santo muito milagroso, porém brabo e exigente como ele só. Rei dos Congos e Moçambiques, o mesmo tem o privilégio de ser o primeiro em tudo. Seu andor é o primeiro a ficar pronto e o primeiro a sair da igreja para liderar as procissões. Mesmo nas rezas de  São Gonçalo prepara-se um andor para este santo e no altar do santo violeiro ocupa lugar de destaque. Se desrespeitado sua vingança ocorre com vendavais, tempestades ou chuvas na ocasião das festas.
                   Contam que, numa festa de São João era comum os andores serem enfeitados na casa de um dos festeiros para retornarem a igreja na véspera do dia do padroeiro. Levados em procissão para uma fazenda próxima a cidade, chegaram de forma desorganizada e foram espalhando os andores, quando chegou o São Benedito, não havia lugar separado para o mesmo e o fanfarrão e abusado festeiro mandou que o colocassem no porão, pois lugar de escravo era na senzala. Admirados, muitos fiéis ficaram preocupados, foram ao porão e receosos enfeitaram o santo de vermelho (sua cor predileta). O amanhecer véspera da festa não trouxe bons sinais, nuvens pesadas foram se juntando e na hora de saírem com as imagens houve um grande temporal, cujos ventos de tão fortes destruíram as barracas na cidade e por fim levou boa parte do telhado da casa do festeiro. Choveu dias seguidos e não houve festa e nem procissão em louvor aos santos.
A nossa  Igreja Matriz possui uma belíssima imagem de São Benedito e o seu andor é  caprichosamente forrado, com esplendores ricamente ornamentados  em flores e as vezes até iluminado. Em todas as procissões em louvor aos santos era o primeiro a descer solenemente as escadarias da igreja, com diversos andores atrás de si. Na festa de São João seu andor recebia o mesmo tratamento a altura do padroeiro e ficava exposto na igreja.
Nas casas a tradição manda que sua imagem fique sempre na cozinha e não nos oratórios, pois consta que o mesmo foi um grande cozinheiro e sua presença neste cômodo garante fartura e proteção. A ele serve-se o primeiro cafezinho todas as manhãs ou toda vez que se côa um café novo.
Mas quem foi São Benedito? De acordo com a Santoral Popular (Santo Nosso de Cada dia -  ed. Loyola 1991) ele nasceu em 1526 na aldeia de San Fratello Província de Messina na Sicilia, era filho de pais descendentes de escravos, conseguiu sua liberdade graças ao professor Manasséri, apesar de ter recebido excelente educação não era alfabetizado. Aos vinte e um anos foi para o eremitério onde exercitava todas a suas virtudes e adquiria novas a cada dia, operando diversos milagres. Mais tarde foi para um dos rochedos de Palermo e em 1562 ingressou na ordem Franciscana no Convento Santa Maria de Jesus. Foi cozinheiro por muitos anos e em 1578 foi nomeado guardião do convento e mestre de noviços. Morreu em 1589 e seu corpo continua incorrupto e exposto na igreja de seu convento em Palermo - Itália.
Seu culto introduzido no Brasil via Portugal e outros países teve grande aceitação entre os escravos os quais dedicaram-lhe as coroas dos Congados e Moçambiques, bem como inúmeros versos nos folguedos religiosos.
Mesmo tendo o seu dia comemorativo em cinco de outubro, dado a sua origem africana comemoram-no sempre a treze de maio, relacionando-o com a libertação dos escravos. Mesmo não havendo grandes festividades em seu dia, uma coisa era certa, São Benedito estava presente em todas as festas, afinal, sem sua vontade os dias de festas não  seriam ensolarados e as noites não seriam tão estreladas. Viva São Benedito!

Valter Cassalho