segunda-feira, 11 de junho de 2012


ETA SODADE DAS FESTAS DANTES

Mais nem diga cumpadre! Que sodade das banda de músicas fazendo retreta no coreto, tocando na procissão, mecê se lembra da procissão de São João? Cumprida tuda vida, andor enfeitado de luz,  cheio de flor amarela e branca, mortero no ar fazendo tremê a terra. Aquele monte de anjinho cercando os menininhos vestidos de São João puxando os carneirinhos chorosos no meio do povo. Todo mundo rezando e os festeiros dando saquinhos de bala e santinho pra gente. Que sodade cumpadre, dos tempo dantes!
Hoje tudo mudado, os fio da gente vão pras escolas dança quadrilha e coitada da professora que parece que nunca viu caipira na vida; manda a criançada por camisa xadreiz, carça jeans e bota de bico fino e aquele chapelão de firme de cinema.  Da inté dó e ainda por cima mandam enchê a roupa de remendo  e tocam umas musicas que nem a gente gosta e pra piorá e fazê poco-caso da gente pinta os dentes de preto, como se nóis fosse tudo desleixado. No nosso tempo, caipira ia pra quadrilha de terno, alinhadinho, nem que fosse terno pegando foguete, chapéu de paia novinho em foia, barba feita cheirando agua verva, sapatão novo e carça vincada de brim, na estica! Música de quadrilha, pra nóis era Moreninha Linda ou o Mario Zam  fazendo levantá poeira no arrasta pé.
Tempo bão aqueles. Nóis guardava dinheiro e vinha pra festá, comprava roupa nova, brinquedo pras criança, argodão doce  de segurá com paper de pão, puxa-puxa e cartucho de amendoim. Brinquedo pra nóis era as bolinhas de pó de serra amarrada no elástico, patinho de madeira que quando andava batia as asa, bexiga  colorida e cata-vento. As muié aproveitava pra comprá umas panela nova, uns vestido mais moderno, umas blusas de lã, enfeite pro cabelo e outras coisa mais. Dispois nóis reunia em frente da igreja e ficava escutando os violeiros, as moda de Tião Carreiro e Pardinho, Liu e Léo, Tonico e Tinoco, Jacó e Jacozinho, forante as piadas  e desafios de corria pro meio e dispois ainda terminava tudo num catira gostoso, com muito quentão. 
Congada e Moçambique tinha o dia todo e tem gente que acha que os dois é a mesma coisa. Caiapó queimando porva pra lá e pra cá, vinha inté de outras banda e dispois reunia tudo pra conversá. Banda era o dia inteiro, uma revezando com a  outra, num bailado loco de gostoso. As rua cumpadre, tudo enfeitado de bandeirinha colorida  e taquarinha pra procissão passá, a igreja intão tinha luizinha de cor de cima em baixo, uma belezura que só veno.  Tinha arvorada, com banda e muito foguetório e mortero! Tinha  o homem da cobra vendendo remédio com uma sucuri na mala e até muié  que virava macaco.
Agora põe este parque que acaba com dinheiro e as criançadas fica que nem loco, as musicas uma moda de fazê boi durmi de tanta cornisse ou senão uma baruiera e gente rebolando que não acaba mais.  Politico então, é um tar de pegá na mão que a mão da gente parece inté fita de pé de santo.
Sodade daqueles tempo cumpadre, sodade de tudo, da festa gostosa que reunia tudo mundo, sodade da viola, da sanfona, das paçoca, do afogado, do quentão, da procissão que de tanta gente passavam uma corda no meio, das brincadera, do leilão. Sodade das fogueira, dos mortero, das modas, das quadrilha, de tudo. Tempo bão aqueles!  Eta sodade marvada!

Valter Cassalho


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