quarta-feira, 19 de setembro de 2012




O ISLAMISMO

“Oh vós que credes, temei a Deus. Que cada alma considere o que preparou para seu amanhã. Sim, temei a Deus. Ele sabe tudo e vê o que fazeis. E não imiteis os que se esquecem de Deus. Deus os faz esquecerem-se de si mesmos. São eles os perversos”. (Corão – 59:18-19)


Não bastasse os trágicos acontecimentos do atentado terrorista nos EUA no dia 11/9/2001, agora um filme e nesta semana um charge contra os muçulmanos coloca o mundo em pavorosa novamente. A mídia costuma focar o terror, o atraso, atentados do oriente médio, e não mostra a cultura, a riqueza, a beleza, o folclore e tanta coisa boa que existe naquela cultura milenar e importante para todo o mundo.
Infelizmente, a ignorância, mãe de todas as misérias,  encontra terreno fértil em mentes vazias, as quais não filtram e nem questionam as informações que lhe são passadas.  Não se pode, jamais, julgar um povo, raça ou  grupo pelos atos praticados por alguns de seus membros.  O nazi-fascismo, a intolerância, a xenofobia não cabe mais num mundo que está interligado por uma gigantesca rede de comunicação e misturas raciais.  Os islamitas não são inimigos do mundo, eles pertencem a este mundo e representam uma grande parcela da humanidade, sendo a religião que mais cresce atualmente.  Não podemos ainda esquecer que quando o ocidente estava mergulhado em seu fanatismo religioso da Idade Média, os mulçumanos ensinaram ao nosso mundo a álgebra, a geometria, a trigonometria, o uso do zero e de algarismos arábicos, introduziram noções astronômicas, trouxeram a bússola, a pólvora, o papel, o fósforo, o álcool, os  ácidos, fundaram hospitais e ensinaram medicina. O Oriente Médio hoje, não é o que a televisão e jornais insistem em mostrar, não é  um grande deserto cheio de camelos e fanáticos, possuem uma série de avanços e modernidades.  Os prédios dos islâmicos quando bombardeados também desabam, matam inocentes, sufocam crianças e bombeiros, e eles choram suas perdas como qualquer outro povo, talvez um pouco diferente no sentido de acreditar com todas as forças em Allah, o Deus Supremo, o Senhor do mundo Islâmico. Mas, o que é o Islamismo?
O islamismo, com mais de um bilhão e trezentos milhões de adeptos, espalhados pelo Oriente Médio, África, Ásia  e em menor número na Europa e Américas é a segunda maior religião do mundo. Foi fundado por Mohammed (Maomé), um condutor de camelos casado com a rica viúva Khadija,  iletrado porém sábio foi persuadido para sua missão pelo Anjo Gabriel que lhe ensinou a doutrina que deveria propagar e através dela unificou o povo árabe.  Organizando um grupo de iniciados  ditava-lhes os preceitos religiosos,   através da inspiração divina, sendo mais tarde compilado o livro sagrado do islame chamado de O Corão (Al Corão = a leitura).  Os islâmicos crêem na existência dos anjos e professam fé nos antigos profetas bíblicos, esperam o Juízo final, acreditam na predestinação divina dos maus e bons, oram cinco vezes ao dia, jejuam no mês de Ramadã, pagam dízimos e realizam quando suas posses permitem uma peregrinação a cidade sagrada de  Meca (Arábia Saudita); não tomam bebidas alcoólicas, não comem carne de porco. Mohammed seria o último dos profetas, após  Adão, Abraão, Moisés, Davi e Jesus, o preceito máximo está em: “Não há outro Deus senão Alah  e Mohammed é seu profeta”. Em 632 da Era Cristã, na cidade de Medina, morreu o profeta Mohammed deixando uma nova religião em franca expansão e havendo divergências de sucessão e interpretação de seus ensinamentos.
O Corão engloba a doutrina judaica e cristã, tendo uma perspectiva universalista, cada muçulmano é seu próprio sacerdote, possuem uma existência ética em que todos são responsáveis diante de Deus (Allah); os homens não são donos de sua vida, de seus bens, nem do mundo, tudo pertence exclusivamente a Deus; para os muçulmanos, os deveres vêm antes dos direitos e a própria palavra Islã, significa submissão, ou seja, submissão a vontade e leis de Allah, o Clemente e Misericordioso. 
O islamismo de outrora não foi uma religião intolerante, haja vista que, árabes, judeus e cristãos conviveram e misturaram suas culturas na Península Ibérica (Portugal-Espanha) quando esta estava sob domínio dos muçulmanos de 711 a 1492; na Índia o islamismo, hinduismo e budismo coexistem desde o ano de 647, no Oriente Médio as três religiões não tinham maiores atritos até as Cruzadas Cristãs (1095 a 1291).
A questão muçulmana hoje é mais política do que religiosa. Como não há um chefe religioso absoluto, o Corão é interpretado e seguido de acordo com os aspectos culturais de cada País, sem no entanto, perder sua essência divina.  Os fundamentalistas levam o Corão ao pé da letra buscando suas origens, adotando códigos civis, penais e políticos  ali descritos, os quais são condizentes com o modo de vida do século VII, enquanto outros grupos (grande maioria) extraem do Corão os preceitos divinos (Sharia)  que compõem seus dogmas e crenças.
Geralmente muitos confundem todos os islâmicos como fundamentalistas ou xiitas o que não é real. Em média noventa por cento dos mulçumanos são SUNITAS, ou sejam, seguidores da sunna (tradição) que proclamou os califas como sucessores de Maomé e dez por cento são XIITAS seguidores de shi’at (facção) os quais defendem que Ali genro de Maomé seria  seu herdeiro espiritual, tendo uma linha de conduta muito dura.
A Revolução no Irã de 1979 liderada pelos xiitas  transformou esta palavra como sinônimo de intolerância e fanatismo no mundo ocidental, quando na verdade existem muitos xiitas que não são fundamentalistas  e não aceitam o terrorismo e há sunitas que podem apoiar este tipo de atrocidade.  Há xiitas que criticam os excessos praticados pelo Talebã que está no poder do Afeganistão desde 1996.
Talvez a mídia ocidental enfoque mais os problemas religiosos e políticos do mundo oriental do que o ocidental, pois as intolerâncias religiosas estão presentes em todos os povos e épocas.  Cristãos e muçulmanos ainda hoje se chocam nos Bálcãs,  existem guerras entre hinduístas e budistas no Sri-Lanka, nos Estados Unidos e no Japão  há seitas religiosas extremistas que já praticaram atos de terrorismo, grupos religiosos fanáticos  se suicidam  coletivamente na África  e no Norte das Américas. Como acusar somente os muçulmanos de intolerância, quando sabemos que na Irlanda,  região rica do primeiro mundo, educada ocidentalmente, possui grupos protestantes que cospem em crianças, as insultam e agridem seus pais pelo fato de serem católicos e republicanos? Da mesma forma,  católicos irlandeses cometem atos de terrorismos e assassinam  pessoas pelo fato de serem protestantes e monarquistas. A inquisição cristã, que teve sua origem na Idade Média mas que agiu com maior crueldade e intolerância da Idade Moderna,  matou inúmeras pessoas em nome da cristandade, as intolerâncias protestantes e católicas se chocaram na França e em vários países fazendo milhares de vítimas.
Não se pode culpar todos os muçulmanos do mundo, pelo atentado produzido por uma pequena parcela de fundamentalistas, repreendidos até mesmo pelos seus irmãos de fé.  O problema não  está nas religiões, mas nos homens, pois tanto para os muçulmanos (Corão)  para os Judeus (Torah) para os Cristãos (Bíblia) está escrito: NÃO MATARÁS!
O ocidente precisa aprender a convier com as diferenças, aprender a diversidade, parar de ver apenas o próprio umbigo, de ver os diferentes como inimigos. Que cada povo tem o direito de viver como queiram. Há muito ainda que se aprender !

Valter Cassalho

(Fontes: O Alcorão – tradução Mansour Challita;  Revista Super Interessante – maio 1997; O Livro das Religiões – cia. das Letras 2001, Grandes Impérios e Civilizações – O mundo Islamita vol. II, ed. Delprado-1996). 

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