quarta-feira, 4 de julho de 2012


80 ANOS DA REVOLUÇÃO DE 32


Oitenta anos da revolução de 32 neste 09 de julho! Data magna do Estado de São Paulo, uma data que orgulha a todos os paulistas. O desenrolar da revolução de 1932, desde o dia 23 de maio  com a morte dos quatro estudantes (Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo) até o seu término no inicio de outubro, deixaria profundas marcas no povo paulista, principalmente para os habitantes do Vale do Paraíba. Com o estouro da revolução em 09 de julho ficou claro que este Estado guerreiro de origem Bandeirante não iria retroceder em seus ideais.  Mesmo  sem o prometido apoio de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, São Paulo resolveu continuar a guerra, contando com a tropa rebelada de general Bertoldo Klinger do Mato Grosso. Somando estas tropas com a  Força Pública Paulista e diversos voluntários, nossas forças não ultrapassavam a 35.000 homens contra a poderosa marinha, aviação, homens do Governo Central  e mais a Brigada Gaúcha e outros contingentes que ultrapassam a 100.000 soldados. Todavia, o conflito apesar  deste desequilíbrio durou  cerca de três meses. Em setembro os mineiros já tinham ocupado as cidades de Jundiaí e Itú, avançando em direção a Capital Paulista. As forças fronteiriças foram capitulando  até que em primeiro de outubro representantes da Força Pública reuniram-se na cidade de Cruzeiro (Vale do Paraíba), com o general Góes Monteiro representante das Forças Federais, rendendo-se  e pondo fim ao conflito.
Mas, se São Paulo perdeu a guerra, por que os paulistas se vangloriam tanto deste acontecimento? Além do heroísmo, patriotismo, civismo, luta pelo direito de representatividade, o Governo Federal de Vargas percebeu a impossibilidade de se ignorar a elite política de São Paulo; os paulistas estabeleceram um novo compromisso com a União e no ano seguinte  conseguiram a nomeação do tão almejado interventor civil e paulista, nada menos do que Armando Sales de Oliveira, cunhado de Júlio Mesquita Filho, diretor do jornal  O Estado de São Paulo. Neste mesmo ano baixou-se o decreto reduzindo os débitos dos agricultores atingidos pela crise, bem como a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. Perderam a guerra mas conseguiram seus objetivos, depois de 32  as bases do Governo Federal ficaram abaladas e novas consciências políticas foram dramatizadas no contexto político brasileiro.
Nossa região, em especial Joanópolis e outras cidades fronteiriças tiveram sua parcela de contribuição, fornecendo alimentos, abrigo, doando jóias e ouro. As forças Constitucionalistas tiveram o apoio das linhas de trem da região,  voluntários tornaram-se soldados, bloquearam estradas de acesso e  as divisas com Minas Gerais.
Ainda muitos de nossos cidadãos contam orgulhosos do período da revolução de 32, quer seja pela participação nas trincheiras, quer seja pela tensão criada em referido período. O rádio era uma raridade, os jornais da capital demoravam para chegar, mas mesmo assim os joanopolenses acompanharam ansiosos o desenrolar dos acontecimentos.
Logo no dia 12 de julho chegaram os primeiros soldados em nossa cidade, pertencentes ao Batalhão  sediado em Bragança Paulista, sob comando do Coronel Morino.  De inicio  instalaram-se na antiga casa dos Figueiredos (na Praça Pe. Domingos Segurado - hoje casa do dr. Airton Pinheiro) e formaram um posto de comando na casa do sr. Vicente Zappa ao lado do Cine Teatro Recreio (hoje farmácia do dr.  Djahy Tucci) que foi usado como armazém para os suprimentos da tropa, ocuparam  também o Posto Telefônico o qual era chefiado por dona Marcolina Cuoco Pereira.
Imaginem a novidade, os comentários e apreensão que se instalou. O medo de uma invasão por parte de Minas Gerais aliou-se com a preocupação das conseqüências do conflito armado. Os inspetores de quarteirão  começaram a convocar pessoas para abrir trincheiras nas divisas com Minas, em especial nos bairros dos Carvalhos, Forjos,  Posses, Azevedo e Abel. Na cidade o delegado de policia Theotônio Sant´Anna e o prefeito Estelita Ribas,  trabalharam para manter a ordem, recrutando cidadãos e fornecendo todo tipo de ajuda aos soldados.  A população se uniu num clima de hospitalidade, amenizando o desconforto dos soldados nas trincheiras, principalmente pelo intenso frio de julho,  começaram a mandar comida, roupas e cobertores; diversas mulheres, lideraram grupos  para confeccionarem boinas, uniformes, agasalhos. O clima de tensão passou a ser substituído  por um clima mais tranqüilo, chegando mesmo a realizarem festividades e recreação no sentido de espantar o pessimismo. Diversos fazendeiros doaram armas, munições e animais, bem como formaram com os colonos verdadeiras frentes de defesa de suas terras.
No dia 07 de agosto, o sr. Esmeraldino Pereira chegou das trincheiras, informando que onze oficiais e um civil, fugitivos de São Paulo, foram capturados quando tentavam escapar para o Estado de Minas Gerais, após chegarem a cidade e conduzidos para a cadeia, foram transferidos para a capital do Estado. Um outro fato abalou a cidade, um dos oficiais, nas trincheiras no Pau-do-Corvo, na fazenda do sr. Olivio Badari,  errou a contagem de uma granada alemã, e esta estourou em suas mãos, vindo o mesmo a falecer nos braços do sr.  Hirami Politi, o qual serviu como motorista dos Capitães Moraes e Picher no patrulhamento das trincheiras.
No caso de invasão do município, ficou decidido que após um sinal de morteiro, a população deveria refugiar-se no bairro dos Pintos, onde existiam grandes fazendas  próximas uma das outras e de ampla visão das estradas e da cidade. Todavia, no dia 20 de agosto um estouro  assustou a população, até mesmo um velório (Valeriano Tacito) foi abandonado, porém, o alarme foi falso, o estouro ouvido foi dado por um vigia que confundiu-se com uma movimentação de pessoas  no bairro das Posses, sendo na verdade um casamento e não tropas inimigas.
 Tanto Joanópolis quanto Extrema não poderiam se defrontar, pelo fato de terem muitas famílias  unidas pelo casamento, criando uma parentela  mineira e paulista, fato esse que deixava ambos os municípios em uma agonizante situação. Graças a Deus o conflito em nossa cidade não chegou a acontecer. Tivemos uma participação cívica e honrosa, muitos participaram diretamente, tais como o sr. Manoel Lopes de Carvalho, cabo do Esquadrão do 3º Batalhão da Força Pública de Itapetininga, sendo ferido no combate de Itararé; Geraldo Fernandes Oficial da Força Pública, rádio-telegrafista no Palácio do Governo; o saudoso Aristides Bragion, espião do Batalhão 09 de Julho, cargo esse que lhe rendeu dois meses de prisão após a revolução. Cito ainda, José Amorim, Ademar Ramos, Luiz Valle, Manuel Cambuí, Benedito Moscardini, Mario Melo, Dr. Felicio Nogueira, João Toledano Sanches, Irineu de Souza Bueno,  entre inúmeros que trabalharam e colaboraram com São Paulo, que dada a extensão dos nomes deixo de citar. Mas, a todos  estes Revolucionários Paulistas, que sonharam e lutaram pela garantia da cidadania e o exercício livre de nossos direitos, o nosso muito obrigado.

Um comentário:

  1. Aristides Bragion foi meu avó. Eu convivi muito pouco com ele mas me lembro muito bem de suas historias. Ele relutava em contar sobre a revolução e o que ele fez. Fiquei muito feliz pela citação a ele neste blog. Irei guarda lo com carinho.

    ResponderExcluir